sábado, 29 de novembro de 2014

O Menino das Flores

Para o dia seguinte, flores
Para o nascimento, flores
Para enfeitar o jardim, flores
Para encantar seu amor, flores
Para o bouquet da noiva, flores.

Para enfeitar a igreja, flores
Para finados, flores
Para a abelha fazer o mel, flores
Para o beija-flor parar no ar, flores
Para a primavera, flores.

Lembro do menino de rua que cantava
"Flores, flores, o mundo são feito de flores"
e depois depositava flores em minha janela .
Ele foi enxotado pelos vizinhos
Que, com certeza, não recebiam flores.

Para todos, bons e maus, flores
Os primeiros por merecimento,
Os outros para tentar mudar
E ter novo comportamento.

"Flores, flores, o mundo são feito de flores"
Por onde andará o menino
Que depositava flores em minha janela
E que foi enxotado pelos vizinhos
Que, penso eu, não recebiam flores.


Kátia Bicalho -06/11/2014

Dor da Solidão

Dia difícil para a solidão
Ficou tão só nada no ar
Que não conseguiu se ver
Por isso não saiu do lugar.

Solidão fora dos padrões
Fora dos propósitos elencados
Solidão de alma e de corpo
De virtudes e de pecados.

Onde buscar neste momento
Um novo pensamento
Que mostre outro caminho
Que livre deste tormento.

Na triste viagem interior
O sangue parece talhado nas veias
Órgãos apodrecem com o veneno
Destas necessidades alheias.

Da memória vem o ácido
Que raleia o líquido vital
E das entranhas novo calor
Temperado com muito sal.


Kátia Bicalho - 22/11/2014

Órgãos dos Sentidos

Olhos que ardem, lacrimejam
Olhos que veem longe o fim
Olhos que procuram por todos os lados
Alegrias, cores, amores enfim.

Ouvidos que ouvem vários sons
Muitos bons, outros ruins
O que é bom entra por um lado
O ruim sai escorraçado por mim.

Boca que come, bebe e fala
Grita por todos os poros
Abre e fecha, fala e cala
Sente o fel , gosto ruim.



Kátia Bicalho- 22/11/2014

Nada de Mim

Descobri neste exato momento
Que não sei nada de mim
E neste vasto desconhecimento
Descubro uma história sem fim.

Este eu tão desconhecido,
Tão carente de vida e sentido,                                                                           
Vive assim por conveniência,
Sem mostrar seu peito ferido.

No cantinho do seu céu
Vive sem ter prioridade
Debaixo do seu negro véu 
Se esconde do brilho da claridade.

Toda proposta de mudança
Nem o travesseiro alcança
E, o sonho, supremo senhor
Viaja em desordenada andança.

No abismo totalmente vazio
Tudo fora do alcance da visão
Precisa chegar ao fundo
Para por o pé no chão.



Kátia Bicalho- 22/11/2014