quinta-feira, 28 de março de 2019

O Piado



Que piado é esse?
Será o meu pássaro
Ou o de alguém?
O meu era meu
Mas agora é de alguém.
O de alguém era meu
Mas agora é de outro alguém.

Algum algo parece acontecer
O piado dele eu sei reconhecer
Apesar da semelhança de todos
O que chega ao meu ouvido tem sensação.

Um dois três
Ninguém para contar a história.
Ficaram no ar
Os voos rasantes, penas, asas a arfar.



Kátia Bicalho - 31/12/2018

O Braço


O braço saiu do lugar
Por que o braço saiu do lugar?
O que o braço queria pegar?
O que o braço fez fora do seu habitat?
Queria me falar?
O que ele iria fazer, onde iria se agarrar?
Coloquei-o de volta à concha antes de saber
O que tinha para me contar.
Só pode ser alguma fofoca
Dos ossos que moram lá.
Não quero saber de diz que me diz.
Volte e não tente me enganar!
Preciso que me ajude os trabalhos terminar.


Kátia Bicalho – 31/12/2018

Depois de Amanhã


Depois de amanhã
É o último dia do ano de 2018.
Preparar para depois de amanhã:
Roupa nova, sapato novo,
Cores diversas e seus significados.

No depois de amanhã
Vou colocar todas as minhas esperanças
Escrever planos
Mas, só depois de amanhã.

Depois de amanhã vou tomar o Champanhe
Que espera ansiosa para explodir em desejos
Para virar o ano
Mas, é depois de amanhã.
Hum! Tenho que dormir hoje e acordar amanhã
Aí, o depois de amanhã já será amanhã.

Quando chegar o depois de amanhã,
Que amanhã já será amanhã
Então virá o depois de amanhã, que já tinha virado amanhã.
E agora? E depois?
Deixa para amanhã!

Kátia Bicalho – 31/12/2018

Não, Eu Não Amei


Que pena, vivi e não amei.
Não do jeito que o amor se apresenta
Aquela presença, entrega total
Do não ser mais só você.

Que pena, não prestei atenção
Não estive presente e não observei
O amor passou? Não sei
Como afirmar agora se não testemunhei?

O amor deve avisar quando passa
Deve fazer barulho, apitar.
Ou será que passa em silencio e só em silêncio
Se pode com ele conversar.

Sim silencioso deve passar
Para ninguém assustar
Deixar para trás os distraídos
E levar consigo somente quem quer se aventurar.

Kátia Bicalho- 31/12/2018

Museu


Tenho um museu meu
Ele tem um museu dele
O dele tem nicho
O meu tem bicho.

Tem moinhos de vento,
De carne, de café,
Chaleira que apita, que avisa
Tem ferro, alumínio, chumbo e bala!

Sou também uma peça desse museu:
Com prata no cabelo
Ouro nos dentes e
Platina nos ossos.

Sou nobre
Tenho muita valia.
Tenho estoque de gases,
Todos nobres!

Museus vivos, museus falantes
Museus que limpam tacho no lava-jato
Trocam pneus, conversam fiado
E se fecham em frases e reticências.

Kátia Bicalho – 31/12/2018