O andarilho ensanguentado
Pelos espinhos e arames arranhado
Visivelmente mostrava a pele fina e clara
Contrastando com o brilho dos olhos amargurados.
A bebida em excesso
Tirou-o da convivência social
Mas apesar da aparência e dos horrores
Manteve sua ética e valores.
Na síndrome da abstinência
Sem a aguardente para deglutir
Bebeu com gosto o querosene
Que seu estômago passou a destruir.
Desse ato desmedido
Consequências a perder de vista
Hospital, internação
Muitas noites sem dormir.
Por outro lado também
Tudo que mal faz pode bem fazer também
Nenhum verme rotineiro, asqueroso
Sobreviveu ao líquido venenoso.
Seu corpo tomado
Por células indesejáveis
Tirou-lhe a vontade
De mastigar e deglutir alimentos
Diante de tal gravidade
Só rasgando-lhe o corpo com bisturi
Mas a decisão tomada
Foi deixar a doença o consumir.
Definhando lentamente
Á mercê do firmamento,
Sem água ou qualquer alimento
Foi-se com grande sofrimento.
Foi coragem ou covardia
Que tirou-o dessa agonia?
Kátia Bicalho 24/09/2018