sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Cara a cara


Como será minha cara?

Gostaria de me ver

Quando vejo os outros

E só os outros podem me ver.



Cara, bocas e caretas

Riso frouxo, sorriso, queixo caído

Cabelo assanhado ou

Laço amarrado do lado errado.



Como é minha voz

Para o ouvido alheio?

Soa como música clássica

Ou como uma britadeira básica?



Será que olho no olho ou na testa,

E quando rio, quantos pés de galinha crio?

Não sei se falo baixo, alto ou urro

Se sou microfone ou sussurro.



Queria ter um espelho ou ser um espelho

Que me mostrasse a outra face

Mas que nunca me apontasse

Que preciso fazer a dieta do alface.



Kátia Bicalho – 14/05/2019

Gran Finale


Gente, a turma está se aposentando

Sai um, sai outro

E eu vou ficando, deixando para a última hora

Quando o tempo estiver acabando.



Levo susto, muito susto

Pois acho aquilo estranho

Pessoas que ocupam posições importantes

De um dia para outro não são mais mandantes.



Tem gente que digo: “demorô”!

Tem outros que gostaria de compartilhar conversa

Tem gente que gosto muito e não só nesse momento

E de repente, nada mais de entrosamento.



Quem vai sente muito

Quem fica, se enrola com o trabalho

Depois de alguns meses

Parece que nada foi alterado.



Kátia Bicalho – 14/05/2019


Sem Nada, Assim


Sem pressa

Sem stress

Sem perspectivas

Desejo de conectar apenas com a natureza.



Peixe na brasa

Meu rei, minha rainha.

Onde parou o príncipe

Que disse que um dia chegaria?



Olho para o rio

Vejo o sol

Olho para o céu

Vejo o mar.



O espelho d’água

Reflete o espelho d’alma.

Me jogo no sonho

De nunca parar de sonhar.



Kátia Bicalho – 16/03/2019

Mão Boa


Plantei suculenta, nasceu trevo de 4 folhas

Plantei lichia, nasceu pé de milho

Plantei alho, não vingou

Descobri porque desse último, o vampiro tem pavor.



Plantei tâmara, que sei que não vou colher

Plantei manga, pezinho cresceu

Plantei arruda, que vou guardar

Para quando de ajuda precisar.



Planta, verde, aroma doce

Folha seca, flor de cor, cor do amor

Vaso que quebra, muda que pega

Broto que nasce do galho que enverga.





Kátia Bicalho – 20/07/2019

De Volta ao Passado


Anos e anos se passaram

Trinta, quarenta, talvez, difícil contar

Lugares novos que meus olhos encontraram

Lindo planeta a desbravar.



Eis que me vejo aqui

Caraíva, Praia do Espelho, Satú, Cambaú

Como num túnel do tempo

Vejo e ouço o passado a se apresentar.



As mesmas músicas

Jovens hippies, casais “hetero”, “homo”

Fumacinha no ar

Gil, Chico e Caetano a tocar.



Sinto-me feliz em estar aqui

Como se esse lugar esperasse por mim,

Tivesse sido reservado para mim

Um pedacinho do meu paraíso, enfim.



Desta forma olho para o mar

E percebo que o ciclo vai sempre recomeçar

Como a doce onda, que vai e retorna

E não se cansa dos meus pés molhar.



Kátia Bicalho- 16/03/2019