quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Quadro Real

Não me mostrem nada
E nem me digam nada.
Meus olhos e meus ouvidos
Ainda estão a vagar na estrada.

A imagem do seu lindo rosto,
Agora tatuada em minha retina como um brinde,
Vai ser emoldurada, pendurada, idolatrada
Como um santo ou um quadro de Da Vinci.

Nos meus ouvidos sensíveis,
Apenas ecoa a frase sussurrada:
“Quero te sentir, quero te sentir...”
E com esse som quero para sempre dormir.

Nada mais quero ver ou ouvir,
Quero morrer e imortalizar aquele momento,
E somente pensar em reviver,
Se o seu beijo novamente me envolver.


Kátia Bicalho – 20/02/2016

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Contra a Corrente

Prefiro a dor à não dor
Prefiro o desamor à falta dele
Prefiro a ira ao tédio existencial.

O tédio não estimula
Nem mesmo lendo a bula
É um ogro sem sentimento
Só produzindo excremento.

É terrível sofrer de amor
Mas é insuportável não amar
Entre a cruz e a espada
Melhor esperar na encruzilhada.

Há que ter força para reagir à lei da vida
Toda lei tem dois lados válidos
Melhor advogar contra a corrente
E ver o hormônio na veia nadar contente.

Kátia Bicalho – 16/01/16



Retorno

Será que tem retorno
A clara que escorreu
A gema que se rompeu
Do ovo que se quebrou?

Será que tem retorno
A água que corre no rio
Que desce distraída e triste
Mas que encanta a quem assiste?

Será que tem retorno
O amor que foi traído
Que foi trocado por outro roto
E o primeiro jogado no esgoto?

Será que tem retorno
O ente querido que se foi
Que deixou a noite mais erma
E a família toda enferma?

Será que tem retorno
A vida que não floriu
Que de tão triste
A moça não mais sorriu?


Kátia Bicalho – 13/01/2016

Cadê o Tempo?

Onde está o meu tempo?
Cadê o meu tempo?
Tempo para amar,
Tempo para cantar,
Tempo para chorar,
Tempo para a lua olhar,
Tempo para acalmar.
Se tudo tem seu tempo
Terei tempo para ter todo esse tempo?

Não, não posso esperar
Quero meu tempo agora
Tempo que ninguém poderá me emprestar,
Tempo que não poderei recuperar.
Tempo, tempo, tempo
Onde se escondeu o tempo
Um, dois, três
Grite primeiro quem o achar.

Um, dois, três
Encontrei hoje um tempo.
Era o tempo de recomeçar.
Ele me mostrou também
O tempo de conversar,
O tempo de perdoar,
O tempo de perder tempo e
Todo o tempo do tempo
Sem ter que por ele procurar.


Kátia Bicalho - 19/08/2015

Transbordamento

Hoje a chuva desabou
E o rio transbordou.
Hoje a taça também transbordou
E o vinho derramou.

A chuva inundou até o teto
Pela telha que trincou
O vinho transformou o homem em arquiteto
E vários castelos ele desenhou.

A chuva com seu barulho que acalma
O vinho com a última gota que transtorna
A chuva com o rio barrento se misturou
O vinho em noite sangrenta findou.


Kátia Bicalho – 16/01/16

Sombra que Soma

Vai vivendo e vai somando
Vai vendo e anotando
Vai escutando e se envolvendo
Vai tateando e se queimando.

A soma de tudo
Hoje é você
Dividido por tudo
Não resta nem a sombra do que se vê.

Sombra sempre tão fiel
Que só dorme ao findar de todas as luzes
Nem ela suportará te seguir
Depois que o fio da navalha te ferir.


Kátia Bicalho – 16/01/16

Casca dura

A partir de hoje virei barata
Com seis patas e casca dura
Vou correr até voar por aí
E vou dar o troco à altura.

Vou resolver os problemas
Procurar tudo que for solução
E com coragem ou mesmo sem ela
Vou mostrar quem tem razão.

Casca grossa, casca dura
Vou também criar
Se vier com grosseria
Vai cascada levar.

Vou resolver os conflitos
Vou enfrentar os leões
Vou falar com nariz empinado
Com gente de qualquer estado.

O medo pode até me acompanhar
Mais não vai me dominar
Vai ser difícil para ele
Pois debaixo da casca vai ficar.


Kátia Bicalho - 07/09/2015