domingo, 27 de janeiro de 2019

Velha, Sua Vó!


Não quero ser velha
Ficar velha
Nem ter esse bigode chinês
E esse desenho de buldogue.

Tirem de perto de mim todas as novinhas
Não quero comparar minhas ruguinhas.
Que eu seja única e sempre
A mais nova da turminha.

Quero beijar e sentir
O gosto que ficou na memória
Quero me molhar
Só de em você pensar.

Quero gozar, sentir seu sabor
Quero ver você amanhã me procurar
De manhã ou qualquer hora
Só com leve piscar.

Quem escreve isso é uma
É quem eu nunca fui ou não mais me lembro se fui
Quem escreve é uma cinderela
Que além de luz precisa de vela.

Quem conta essa história morreu
Viveu, ressuscitou e reencarnou
Foi e voltou muitas vezes
E quase que um dia ficou.

Mas, voltou
Voltou e não se contentou
Quer mais, procurar mais
Mas sem os óculos desiste!

Querendo ou não
O dia transcorre com rigorosa cronometria
O ônibus passa, a giripoca pia
O desejo não engraça e tem muita vasilha na pia.

Kátia Bicalho – 04/11/2018

Nunca Amei nem Morri


Nunca morri por amor
Não sei mesmo se vivi também
Preciso me redimir
Se o tempo ainda permitir.

Posso amar e me entregar
Querer morrer de amor
Quando em meu braço
Tiver alguém para apertar.

Meu desejo ficou no passado
Talvez esteja a caminho
Tão lento, que se amor chegar
Vai perder o tempo de gostar.

Cada um vive o que reservou sua sina
Cada passo dado é como um ponto eliminado
Os encontros e desencontros
Todos são computados.

Assim de débito e crédito
Seu saldo vai sendo ajustado
Nessa poupança moribunda
A maioria no final se afunda.

Quem não é guerreiro
Que se cuide
Há tanta competição
Combatente forte, morto com arma na mão.

Kátia Bicalho- 04/11/20187

Tempo Cruel


Tempo cruel,
Que não enfeita minha face
Que pede que eu use um disfarce
E que na minha idade
Não deixa que a velocidade eu ultrapasse?

Tempo cruel,
Por que me dá tanto tempo
Se no meu tempo colocou cimento
E no meu coração
Um sangue entre o azul e o cinzento?

Tempo cruel,
A quem amarei
A quem conhecerei
A quem contarei
Que na rua tropecei?

Tempo cruel,
Por que tanta sabedoria
Se tiras a alegria,
Se dás tolerância
E tira a abundância?

Tempo cruel,
Por que acredito que deixamos de amar
Se você insiste em seguir em frente
Dando um destino sem céu
Mesmo a quem sempre lhe foi fiel?
Tempo cruel,
Chega de vaidade
Medo ou coragem
Venha o que vier
No meu braço, fica o que couber.

Kátia Bicalho -04/11/2018

Enlace aos Oitenta


Fiz planos de casar com você aos oitenta
Pensando bem eu com oitenta
Você com oitenta e oito
Oito, oitenta, oitenta e oito!

Está um pouco tarde para amar
Mas a passagem podemos juntos almejar
Sem ter que prometer
Um a perna do outro puxar.

Pensando bem
Oitenta e oitenta e oito
Não é noventa, nem cem
Quem sabe até um rala e rola vem.

Você com o abdome avantajado
Irá encontrar o meu também nesse estado
Nossos órgãos genitais
Ficam à frente ou atrás?

O tempo, senhor da pele,
Pele que sempre cuidei com cremes de mel
E alimentos à base de fel,
Deixou rugas para registrar tanto o mel como o fel.

Vitaminas, ômega 3, cremes comprados em Paris
Pagos em euro ou libra
E agora a minha tez está lisinha só para você que não enxerga
Ao tentar ver, na bengala enverga e até escorrega.
Tempo velho tempo
Se é tão velho
Por que perdura,
Se é velho, por que nunca madura?

Voltando a idade dos por quês ou
Será um porquê se eternizando?
Aquela que vejo é sua “mama”?
Mas por que, ela, banguela está?

Estamos em evolução
Somos os seres mais evoluídos
Pensando bem,
Acho que não seremos excluídos.

Noé, um puxão de orelha bem dado!
Por ter todos os animais trazido
Até mesmo o bicho homem
Que não aceita o tempo e fica sofrido.                                                  


Kátia Bicalho – 04/11/2018/


Quem Herda Não Furta


É, somos os mesmos como nossos pais
A filha que nada sentia
Que não bebia, nem se aranhava em espinhos
Herdou a patologia do pai.

Decidiu, diante do reprise do filme,
Fazer o que ele não fez.
Enfrentou hospital, internação, sofrimento.
É covardia, coragem ou discernimento?

A vida segue limitada
Mas vê o movimento na beira da estrada
Ao redor da cama os filhos
Que são luz, alimento e alegria do convívio.

Kátia Bicalho – 24/09/2018