quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Cinzas de um amigo, (Para Hélio de Bié, Bié de Maria)


Cinzas de um amigo,
Colega de infância, companheiro de jornada.
Tantos papeis assumidos, tantos caminhos percorridos,
Vida feliz, completa, repleta, nada quieta.

Restam cinzas, mas elas não são cinza.
Vejo nelas todas as cores: cores da praia de Geribá,
Cores do bloco de carnaval Geriboi, cores das caranguejadas,
Cores das conversas animadas, sempre regadas com aquela cachacinha.

Vejo cores da cidade de Macaé,
Cores da plataforma, do petróleo, do escritório
Cores de todos os peixinhos do fundo do mar,
Cores de todos os sóis e de todos nós.

Cores de Bom Jesus do Amparo, sua terra de coração,
Cores da família extensa, linda e acolhedora,
Cores dos amigos, dos conterrâneos, dos contemporâneos.
São cinzas coloridas, vividas e que jamais serão esquecidas.

Kátia Bicalho – 12/10/2019
(Dindinha Num)

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Agenda Velha


Comprei uma agenda no meio do ano
Bom preço, oferta da hora
Metade das páginas já tiveram a missa dita
Metade para frente surpresa da vida.

As folhas mortas serviram de consolo
Para minha poesia de palavra torta.
Páginas aceitam de boa o rabisco
Que d’alma ressoa e do coração brota.

Caneta nova deslizando
Nas datas que já viraram história
Registrando pensamentos desordenados
Encobrindo o bem e o mal, emaranhados.

Muitas páginas foram preenchidas
De uma tacada só, como um rolo compressor
Se esses rabiscos vão prestar ou não, nem sei
Agenda velha não tem valor nem leitor.


Kátia Bicalho – 20/07/2019

Coco Vaidoso


O coco vaidoso
Com inveja dos garotos da praia
Abriu uma fenda no couro
E colocou uma flor para se embelezar.

O conteúdo, a água doce e macia,
Ficou em segundo lugar
Pois a imponente florzinha
Brilhou mais que o luar.

O vento sempre atento
Na flor passou a assoprar
E sem que ninguém notasse
A flor começou a murchar.

Perdendo a sua beleza
Ela se pôs a chorar
O coco, desconcertado, à flor dirigiu o olhar
E esse olhar foi o bastante para ali, uma paixão se iniciar.

Kátia Bicalho – 15/03/2019


Silêncio do Mar

Posso considerar silêncio
O barulho que ouço do mar
Ou considerar como um canto
De um cantor querendo me encantar?

Considerar também como um sussurro
De alguém que me chama para amar
Ou como um assovio gostoso
Psiu, psiu, venha me encontrar?

Ouço o silêncio,
Ouço o canto,
Ouço o sussurro,
Ouço o assovio!

E, então grito: não precisava de tanto
Pois é para você que vou caminhar
Me deliciar em suas águas
E juntos um sonho sonhar

Kátia Bicalho – 16/03/2019

Vento


Vento que balança barcos e coqueiros
Vento que refresca a água do mar
Vento que canta em meu ouvido
Doces cantigas de ninar.

Vento que traz e que leva
Conversas do mundo pra lá e pra cá,
Vento que brinca com as folhas das árvores
E essas,quietas,ficam só a observar.

Vento que me alerta,
Que me acalma,
Que  toca meu corpo
Como somente um amante sabe tocar.

Kátia Bicalho – 15/03/2019

O que fazer quando não se tem nada a fazer


Heim? Que situação
O que fazer quando não se tem nada a fazer?
Penso assim:
Fazer nada também é fazer.

Qualquer que seja a ação ou reação
Será sempre uma escolha
Mesmo que seja
Não mexer uma folha na alcova.

Ficar na cama, debaixo da cama
Em pé perto da cama
Ou sair porta afora,
Não importa, tudo é agir.

Por isso sempre digo
Não cai uma folha
Que não seja fluxo natural
Escolha feita, ação realizada.

O melhor a fazer
É olhar tudo com muita naturalidade.
Acolher os atos, transformar em dado e
Distribuir amor que é a melhor ação de fato.
                                     
Kátia Bicalho – 20/07/2019