terça-feira, 10 de novembro de 2020

Verbo no infinitivo

Ter , tenho.

Mas será que tenho tudo mesmo?

Tudo pode ser fruto da imaginação.

 

Sentir, sinto.

Mas para onde vai esse sentimento?

Nasceu do nada para ele voltará.

 

Reagir, reajo.

Mas qual resposta melhor se enquadra?

Talvez relevar mais bem fará.

 

Chorar, choro.

Mas por quem derramo essa água salina?

Melhor ficar onde está e o olho lubrificar.

 

Amar, amo.

Mas a quem direciono esse calor?

Melhor girar e o amor espalhar.

 

Desistir, desisto.

Mas vou abrir mão dos sonhos?

Persistir combina mais com meu modo de agir.

 

Seguir, sigo.

Mas por qual caminho e até quando?

Pelo caminho que escolhi até o dia do fim.

 

Kátia Bicalho - 03/08/2020

 

Novo Normal

 Novo normal, quem viver verá!

Um mundo caótico saiu

Outro neurótico o substituiu.

 

Do novo pouco conheço

Do velho pouco sobrou.

Quem mentiu vai se redimir,

Quem se redimir, pecará novamente?

 

A expectativa caiu

A insegurança surgiu

O tédio persistiu

O ritmo se confundiu.

 

A música estagnou

A novela voltou

A fé aumentou

O povo não se reuniu.

 

O novo normal terá muito o que fazer

Ter que chamar o amor e a esperança para ajudar,

Terá que agendar muitos encontros com a paz

E se espelhar em uma criança para a alegria resgatar.

 

Kátia Bicalho - 03/08/2020

Paradeiro

Vinte e quatro horas tem o dia

Juntando dia e noite.

Oito horas de sono à noite

Mais oito horas durante o dia.

 

Sofá afundado

Almofadas amassadas

Geladeira atacada

Consciência pesada.

 

O que leva a nada fazer

Nada querer

Nada querer ver

Nada querer entender.

 

Se a missão foi cumprida

É hora de mudança radical

Mas para qual direção?

A da razão ou do coração?


Toda meio torta

 Sou toda torta, sou toda torta ou toda meio torta?

A começar pelo partido do cabelo sempre de um lado,

O dedinho do pé, que define a compra do calçado,

O pensamento que busca mais ou menos o que importa.

 

A sombrancelha da direita,  uma curva torneada

A outra, só com corretivo e se tiver muita sorte.

Os cílios cobrem grandes olhos disformes

Que enxergam ao mesmo tempo o sul e o norte.

 

Os dentes, eu diria, fator patognomônico

Meu registro, meu CPF corporal.

Sendo eles assim, lá se vai a boca a pender para um lado

Mostrando só parte do esmalte amarelado.

 

E vai descendo, vai descendo, vai descendo

Com régua não se mede, pois, a régua é reta.

Minto, com minha régua posso medir

Porque ela também é torta.

 

Sendo assim, como posso fazer uma arte

Que seja reta, redonda, perfeita?

Como acertar a bainha da calça, da alça?

Nada, nada sai reto, pois minha risca é sempre torta.

 

E, sendo assim, acaba que tudo meu é único

Pois ninguém consegue repetir aquele pavio da vela mais pra direita,

Aquela música tocada em tons profundamente agudos,

A poesia entrecortada de sim, não, talvez, imensos por quês.

 

“O que tenho de torta, tenho de feliz”!

Tenho de vontade de acertar, nem sei acertar qual meta,

Tenho de coragem depois que o medo cede espaço,

Tenho de sã quando a loucura se distrai e caminha em linha reta

Quero ser feliz


 

Quero ser feliz, ser liberto

Ser contente e correto

Ser vida, ser luz

Ser como a fé e a cruz.

 

Ser pensante também aprendiz

Ser encontro também raiz.

Ser lama, ser dama, ser cama

Na magia de um dia feliz.

 

Ser sal

Ser sol

Ser lua

Ser estrela que conduz.      

 

Ser ser que saiba

Ser que caiba

Ser que ouça

A todos e a si.