terça-feira, 10 de novembro de 2020

Toda meio torta

 Sou toda torta, sou toda torta ou toda meio torta?

A começar pelo partido do cabelo sempre de um lado,

O dedinho do pé, que define a compra do calçado,

O pensamento que busca mais ou menos o que importa.

 

A sombrancelha da direita,  uma curva torneada

A outra, só com corretivo e se tiver muita sorte.

Os cílios cobrem grandes olhos disformes

Que enxergam ao mesmo tempo o sul e o norte.

 

Os dentes, eu diria, fator patognomônico

Meu registro, meu CPF corporal.

Sendo eles assim, lá se vai a boca a pender para um lado

Mostrando só parte do esmalte amarelado.

 

E vai descendo, vai descendo, vai descendo

Com régua não se mede, pois, a régua é reta.

Minto, com minha régua posso medir

Porque ela também é torta.

 

Sendo assim, como posso fazer uma arte

Que seja reta, redonda, perfeita?

Como acertar a bainha da calça, da alça?

Nada, nada sai reto, pois minha risca é sempre torta.

 

E, sendo assim, acaba que tudo meu é único

Pois ninguém consegue repetir aquele pavio da vela mais pra direita,

Aquela música tocada em tons profundamente agudos,

A poesia entrecortada de sim, não, talvez, imensos por quês.

 

“O que tenho de torta, tenho de feliz”!

Tenho de vontade de acertar, nem sei acertar qual meta,

Tenho de coragem depois que o medo cede espaço,

Tenho de sã quando a loucura se distrai e caminha em linha reta

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