quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Que golpe horrível!

Surpresa, estupefação, assombro

Queixo caído, susto, incompreensão

O inusitado sempre chega

E cai certeiro em nossa cabeça.

 

Custamos a nos dar conta

Do tsunami que nos atingiu

Por vezes até negamos

E dizemos que foi um cisco que caiu.

 

Durante algum tempo, vem a descrença

De que estamos mesmo numa encrenca

Mas, como sempre, o tempo passa e,

Com sabedoria apaga a trapaça.

 

O golpe foi dado.

É, foi um golpe horrível!

Seja no presente ou no passado

Ficará, como cicatriz, registrado.

 

Não quero nem imaginar

Que isso comigo acontecerá

Logo eu, esse poço de alegria

Como posso ser a próxima alegoria?

 

No caminho para a forca

Ao vislumbrar a guilhotina

Todo o passado vem a tona

E te condena e te mostra sua sina.

 

Caminhar até a própria morte

Parece coisa de filme

Mas na vida real, sem corte,

Terá que ir, sem ter quem a estrada ilumine.

 

Kátia Bicalho - 24/10/2020

Nós, a vida, os vaga-lumes

Gente, com que saudade me lembro

Da minha primeira infância

Rodeada de vaga-lumes ao anoitecer.

 

Na cabeça infantil

Fazia do bichinho de luz, minha lanterna e

Saíamos pelo quintal, em busca de aventuras

Numa relação de cumplicidade.

 

O céu descia ao chão

Pois estrelas piscavam dentro e fora do porão

E o céu se estendia pela rua

Polvilhado de pontinhos luminosos.

 

Já não os vejo mais, meus companheiros da infância

Nessa época de luz de led.

Vejam essa história:

Outro dia apareceram na casa da minha sobrinha

Quando o fogo devorava as matas pelas bandas de lá.

 

Ela desesperada enviou mensagem:

Seres extraterrestres invadem minha casa!

Ao ver a foto quanta graça achei e que alegria senti

Ao reconhecer meus amigos de infância .

 

Dos tempos de criança pra cá

A vida seguiu seu fluxo, seu trajeto,

Ora com eles, ora com elas, ora com lumes

Às vezes vaga, mas com gostosas lembranças de vaga-lumes.

 

Kátia Bicalho - 07/11/2020

Chuva que Chove

Chuva que chove

Molha dentro de mim

Encharca minha alma

Que se transforma em rio sem fim.

Um rio que segredos encerra

Corre naturalmente

Sem pensar no trajeto

No obstáculo à sua frente.

 

Tudo que nele existe

Foi criado ontem e hoje também.

Nesse sinuoso caminho, onde não navegam peixes,

Os sentimentos rumam bem para lá do além.

 

 

 

Kátia Bicalho – 03/03/2020

Santos e Santas

Somos todos santos e santas

Quando praticamos o bem

Mesmo sendo pecadores

Ao bem Ele sempre diz amém!

 

Santa Maria do Carmo,

Santa Celina Maria, Maria Márcia

Santa Dalva Maria, Dona Maria

Santas todas, não só as Marias!

 

São João, Santa Lourdes, Santa Lúcia,

Santos e santas que curam

Com trabalho, palavras e muito afeto

Santas que cuidam de pais, filhos e netos.

 

Homens e mulheres de bem,

Continuem fazendo sempre o melhor

Que a vida traz de volta

O que se semeia na rota.

 

Kátia Bicalho – 07/11/2016

Em Torno do Amor

Em torno do amor

Há um mundo conhecido

E um outro amplo, vasto

Totalmente desconhecido.

 

Há o que se apresenta a olhos vistos

O mundo que o coração vê e sente

Felicidade, alegria, desejos, compromisso

Um mundo com muita ideologia presente.

 

Há barulho em profusão

Portas que se abrem, portas que se fecham

Entre abraços apertados e beijos estalados

Entre ranger de leito de amados.

 

Há vibração, canto, música no porão

Chão de estrelas, paixão

Gozo, choro,  gemidos

Sussurros, urros  e gritos.

 

Desse lado que se vê

Onde o real se apresenta

Não é nem a sombra que há por detrás das cortinas

Onde outro tipo de amor entra em cena.

 

Lá há ilusão e desilusão

Confiança e desconfiança

Aliança, descompromisso

Pode haver festa e também comício.

 

Lá está o sutil e o incontido

O tremor, o esmorecido

A gota e o conta-gotas

Tudo nos bastidores, espremido.

 

Nesse entorno muitas vezes

Felicidade rima com efemeridade

Vício com cílios postiços

A alma com o início do precipício.

 

Há objetos quebrados

Cristal espatifado e espalhado

Espelhos trincados e embaçados

Jornais não lidos, amassados.

 

O tempo existente

Fica entre o presente e o ausente

O passado surge embutido

Cobrando o que foi escondido.

 

O torno da modelagem

Engata mais uma produção

O molde entretanto

Tem outra conformação.

 

No em torno, entornado

O amor vai sendo transformado

No visível, sempre em frequencia elevada

Mas, debaixo do tapete o nível é conturbado.

 

O em torno, descontrolado

Se enche de dúvida e marasmo

E quando olha em volta

Se assusta com tanto objeto quebrado.

 

O olhar por mais que tente

Não consegue decifrar

O enigma à sua frente

E até pensa que cego está.

 

Tenta então o entorno ressignificar

Algum diagnóstico encontrar

Mas o mal fadado torno

Gira, gira e nada consegue moldar.

 

O entorno do amor muitas vezes

Nem o amor consegue explicar

Imagina então quem poderia

Esse mistério investigar!

 

Em torno do amor tem cilada

Tem terreno seco, tem areia molhada

Tem vulcão em erupção

Larva quente escorrendo pelo chão.

 

Tem areia branca de mar sereno

De água quente, com peixinhos coloridos

Tem baleia fazendo show aquático

Tem estrela do mar brincando com o sol.

 

Tem planeta, tem satélite, tem muita luz

Tem Júpiter, Saturno, Mercúrio e Vênus

Tem sol nascendo, lua se pondo

Tem terra firme,  monte de descobrimento.

 

Tem  o gozo e seus algozes

Tem o jogo, o campeão e o vice

O fruto e o caroço

O caos e a salvação.

 

Nos trezentos e sessenta graus em torno do amor

De tudo pode se achar

E quem ali se encontrar, se quiser

Pode escolher uma nova vida começar.

 

Kátia Bicalho- 05/10/2020