sábado, 6 de março de 2021

Sintética nada estética

 Sintética é a roupa que veste

Simbólica a taça que de vinho reveste

Sorridente como a praça onde o povo converge

Irreverente a dama pela qual o mundo diverge.

 

Foge pela sala que se mostrou pela janela

De creme enche a pele que se desidrata

De sentimento nada, além de distância ingrata

De valor e alegria vide bula do remédio, que rasga.

 

Tira o sapato para adentrar a casa

Mas leva consigo a lama pelo caminho da sala

Suja a roupa, a cama , a rama, a prancha

Mesmo esfregando ácido não tira a mancha.

 

Prende e açoita o que deveria proteger

Grita no trombone o grito rouco que ecoa no mundo

Boca vermelha de gente que come

Palavras imundas da lama que consome.

 

Livramento, sem ter como contar, lamento

O cisne negro em pleno despojamento

Dispensa a arte que timbre profunda

E ao vento entrega o brilho e o ofuscamento.

 

Kátia Bicalho - 19/12/2020

Águas derramadas

 Que águas derrama sobre mim?

São lágrimas, prantos sentidos

São lágrimas , emoção profunda

Quero saber para poder a toda essa água corresponder.

 

Rajadas de vento forte, às vezes presentes,

Clarões, barulhos, trovões, coração a zabumbar,

Torrentes de doação: limpeza, lavagem,

Retorno do quanto recebo em devoção.

 

Seres amados presenciam tal compaixão

Seres virtuais teclam sem comoção

Seres racionais medem tamanha distância

Seres irracionais não dizem gratidão.

 

Tanta água, seja choro, seja riso

Da mesma forma limpam o chão

Enchem a terra mãe de leite e seiva

Enchem sois, luas e estrelas.

 

Água no chão bate forte com entonação

Parece canto de tribos em oração

Ouço o universo nessa canção

Alento pra vida e pro coração.

 

Kátia Bicalho = 19/12/2020

Raça e Força

Raça, força, luta

Arrebenta, ignora, recruta.

Despretensiosas intimidades,

Verdes amores antes irradiantes.

 

Quanto crescimento, conhecimento

Pra nada, pra construir o quê?

Ninguém quer apreciar o sabor

Só quer todo vinho tinto beber.

 

Minha canção, venha a mim

Me ensine novamente a te entender

Me dar o mesmo prazer, sem demora

Que não tenho tempo a perder.

 

Kátia Bicalho - 19/12/2020 

Velho tempo novo

 O tempo passou

Mesmo no isolamento

Não importou com o momento

Correu e, se foi.

 

Alguns não puderam ver

Outros em casa ficaram e viram

Muitos saíram pouco, mas também perceberam

Poucos, saíram muito e, com o tempo correram.

 

O tempo parou onde quis:

Para ver uma flor ou um riso de criança,

Viu gente dormindo, acordando

Sonhando, amando, desesperando.

 

Seguiu seu caminho, um pouco diferente

Entendeu que morremos mas, também vivemos

Que quando temos sede água bebemos

E quando temos fome algo comemos.

 

Entendeu que ele passando,

Parando, andando ou correndo

Aqui estamos hoje e  amanhã também

Basta o sol nascer, se por e abraçar a lua com seu calor.

 

Kátia Bicalho - 03/08/2020

Nós, o amor, os doces

 

Fui criada ao aroma de doces

Família grande, interior das gerais

Mãe se desdobrando entre gamelas, panelas e tachos

Açucar, frutas, fumaça e cheiros de amor.

 

Especialidade? Deu até água na boca!

Amor em pedaços! Babei!

Sem igual, amor doce em pedacinhos

Para alimentar a todos daquele ninho.

 

Também o doce Sônia. Sônia por que?

Porque minha irmã Sônia ao sentir o gosto e o aroma pergunta:

Qual o nome desse doce? A resposta veio na hora

Doce Sônia em homenagem a você.

 

Figo, laranja da terra, cidra, mamão em tiras,

Alguns recebiam uma costura para fazer o formato.

Visitantes não saiam desse lar

Sem ter provado todas as variedades num só prato.

 

Tento fazer hoje em dia, repetir tal façanha

Pro meu rebento ter lembranças adocicadas

Mas, vamos e convenhamos, nada sai parecido

Mas, será o meu cheiro quando ele for crescido.

 

Kátia Bicalho - 07/11/2020