sábado, 4 de junho de 2016

Eu não sou ninguém

Sou alguém que não vê ninguém
Sou ninguém sem outro alguém.
Sou silêncio em profusão
Sou barulho na escuridão.

Sou a menina, a mulher, a mãe
Sou todas e também raíz.
Sou o toque do badalo no sino
Sou o pingo d’água no chafariz.

A pomba branca que leva o recado
A tartaruga que nunca chega ao destino
O coelho que tão rápido passa do ponto
O gato que de tão arisco pinta um rabisco.

Nada sou, nada sei
Quando estou só comigo
Minha sombra pede licença
E me deixa sem um abrigo.


Kátia Bicalho – 26/05/2016

Sem Namorado

Doze de junho, dia dos namorados
Vários apaixonados programando a noite
Presentes especiais são comprados
E muitas fotos em redes sociais.

Todo ano a mesma coisa
E eu aqui com meus pensamentos
Sem presente, sem telefonema
Sem bouquet de flor, nem chinelo Ipanema.

Até que acho bom não ter o estres de:
Não achar a roupa adequada, trocar mil bolsas e sapato,
De entregar o presente e ele não gostar,
De não gostar do presente dele, que fiasco!

Tem o estres dos lugares lotados
De motéis abarrotados
A expectativa de noite de princesa
Que muitas vezes acaba em tristeza.

Apesar disso tudo digo, sinceramente,
Que é a última vez que passo esse dia diferente
Pois que a paz reine em outro quadrado
O que quero é um namorado em mim grudado.

Kátia Bicalho - 12/06/2015






Só e Fim

Só na solidão
Solidão sem paixão
Paixão sem fundamento
Fundamento sem razão.

Ilusão sem visão
Visão sem luz
Luz sem calor
Calor sem proteção.

Proteção sem mão
Mão sem arma
Arma sem bala
Bala sem doçura.

Doçura sem açúcar
Açúcar sem café
Café sem aroma
Aroma sem flor.

Flor sem espinho
Espinho sem sangue
Sangue sem corte
Corte sem facão.

Facão sem canavial
Canavial sem fogo
Fogo sem destruição
Destruição sem fim.

Fim sem começo
Começo que acaba no fim
Fim sem ponto final
Final sem sinal.

Kátia Bicalho – 26/05/2016




Imagem

Imagem pura,
Imagem destorcida,
Imagem que nunca se apaga.
Imagem que se foi e não mais voltará.

Breves sorrisos,
Lágrimas sentidas,
Beijos marcados,
Bocas em batom.

Cabelos ao vento,
Areia pelo corpo,
Tatuagem na pele,
Cicatriz no coração.


Kátia Bicalho – 26/05/2016

Hibernação

Hibernei hoje para
Colocar a cabeça no lugar
Arrumar espaço para organizar ideias
Tomar decisões, respirar.

Fiquei em silêncio
Para ouvir meu coração
Escutar os pensamentos escondidos
Perceber imagens sob a sombra da visão.

Descansei todo o dia
Para repousar as batidas do pulso
Que ainda pulsa
Deixar fluir o sangue pelos longos caminhos.

Fiquei assim por longo tempo
E as questões foram se clareando
A dúvida foi se dissipando
E as decisões se aproximando.


Kátia Bicalho – 26/05/2016

Maturidade

Mato, ira, idade
Mato essa idade
Matutei nessa cidade
Mesclei viço com vaidade.

Coisa de moço velho
Cabeça de velho moço
Tem hora para tudo
Começando a partir do almoço.

Cabelo de prata, brinco de ouro
Não suporta mais jaqueta de couro
Navega na noite feito um touro
Mas dorme cedo em cama de louro.

Coisa de velho
Coisa de gente esquisita
Maturidade com naturalidade
Maqueia a idade.



Kátia Bicalho – 26/02/2016


Boca Calada

Tenho me exposto demais
Falado muito sobre mim
Com quem conheço e me ama,
Também com pessoa estranha.

Me arrependo depois
Mas palavra dita não retorna:
O que tinha para dizer já foi lançado
O que tinha que calar, foi falado.

Inocência, carência ou solidão,
O que me faz falar assim em vão?
Decidi calar a partir de então
Da minha boca não sai nem mesmo palavrão.


Kátia Bicalho – 26/02/2016

Grafite

Não escrevo mais sobre você
Não merece que gaste meu grafite
O universo gira, dança e retorna
E eu aqui esperando seu convite.

A sua imagem se esfumaçando,
Se perdendo entre roupas e tapetes.
O seu perfume se evaporando
Misturando-se a fragrâncias baratas.

A voz doce e sussurrante,
Que embalava meus sonhos,
Se calando num longo e profundo silêncio.
A esperança enfim, desfalecendo.

Não, não vou mais gastar meu grafite
Escrevendo, em várias laudas, extensas juras de amor 
O lápis preto, apontado em riste, em cima da mesa
Ficará à espera de uma nova sobremesa.


Kátia Bicalho – 21/05/2016

Nada de Ti

Se não me fizestes sofrer
Nem arder de desejo.
Se não me desprezastes,
Nem me chamastes,
Como então me pedes mais versos?


Se não te ouço,
Se não recebo tuas mensagens,
Se não postas nada por mim,
Se não ousas tocar em mim,
Como queres que cante ou
Escreva poemas de amor para ti?


Não me peças o que não me dás,
Não me prometas o que não vais cumprir,
Não me enlouqueças,
Não desapareças,
Nem nunca mais apareças.

Kátia Bicalho – 20/05/16