terça-feira, 1 de agosto de 2017

Gasto do Tempo

Meu corpo não mente,
Delação premiada sobre minha própria vida.
Tempo gasto em grande parte
Com sono, comida e ócio.

Quero uma fonte nova de energia e sonho
Onde gaste mais do que recebo em dádiva.
A cabeça está no pescoço
Mas o pescoço sofre com a pressão da tensão.

Pele que fala, cabelo que se espalha,
Voz que some e não se percebe,
Poltrona que afunda com peso das horas,
Pé que doí mas não se sente.

Levanta, vai, faz o que tem que fazer.
O carma não espera e a noite não descansa.
O sol aparece e se oferece sem discórdia,
O dia amanhece sem criança pulando corda.


Kátia Bicalho- 28/07/2017


Bagagem

Dor de cabeça,
Enjoo, náusea,
Não quero, não me pertence,
Não é minha praia.
Não quero, não vou.
Vou sustentar minha saúde
O tempo necessário
Para cumprir minha missão,
Mesma que ainda não saiba qual.

Vou ser eternamente jovem e saudável até chegar lá.
Minha energia é sustentável,
Minha reserva inesgotável.
Sou aluna, sou mestre,
Sou criança, sou mãe,
Sou perna, sou pé,
Sou braço, sou abraço.

Sou tempo perdido, tempo aproveitado,
Sou lugar comum e camarote de rei.
Sou lua, sou sol, sou estrela, asteroide.
Sou bicho domesticado, e fera selvagem.
Sou dona do meu pensamento,
Sou consciente e dona de mim.
Sou dúvida, sou ninguém, sou quem procuro.

Sou vinho, sou uva, sou semente e casca,
Sou água, sou taça, sou borbulha e gás.
Sou cardápio francês, cogumelo e elegância,
Sou prato de feijoada, caipirinha, pia cheia.
Sou sofá, sou tapete, sou almofada, sou pantufa,
Sou óculos embaçado pendurado no nariz.

Sou alegria, sou calma, sou luz na solidão.
Sou raiva, impaciência, melancolia no encontro com o irmão.
Sou lâmpada, sou poste e lampião,
Sou vela apagada, pavio queimado,
Conexão feita e desfeita.

Sou e não sou, fui e fiquei,
Trouxe, levei, guardei, depois rasguei.
Ouvi e esqueci, assisti mas não escrevi,
Libertei-me e me perdi,
Gastei o tempo e ganhei futuro,
Gastei o futuro e perdi o presente.
Pus na bolsa a carteira, o lenço e o pente.
Voltei logo depois só com a bagagem da mente.


Kátia Bicalho – 28/07/2017


O Repórter Calou

A vida continua.
O culto é frágil e efêmero.
 O tempo urge.
O sentimento sublima.
O olhar enruga mas, brilha. 
O gosto pelo que faz transcende a dor.
A falta se esvai, o lugar é ocupado. 
A vida não para. 
O rolo compressor amassa e enquadra.
O quadro fica pendurado esperando o verniz.
 O olho pende e o cílio cutuca.
A voz continua calada e o paladar já se exauriu.
O ouvido seletivo ajuda a letra.
O Bê a bá e  o bê i bi, ninguém ouve, portanto, ninguém responde.
O horário passou, a semana correu, o ano se foi.
O ritmo é esse, não muda.
Nova adaptação, novo rumo.
Tudo se acomoda, mas por pouco tempo.



Kátia Bicalho – 28/07/2017