sábado, 17 de outubro de 2020

Peça de Um Armário

Às vezes me sinto

Como uma peça de armário

Pendurada em cabide

Aguardando ser convocada.

 

Peça ao lado de peça, 

Peça comum, de cor variada

Ás vezes, por anos, ali esticada

Sem nenhum conjunto a compor.

 

Peça de armário que não se impõe

Que pode nunca ser a escolhida

Que ficará ali estendida

Só mudando o lugar na fila.

 

Kátia Bicalho – 12/02/2020

Afasta de Mim Esse Cálice

Como és correto

Jamais em meus braços deitarás

Ou o gosto da minha boca sentirás

Nem no calor das minhas entranhas gozarás.

 

És fiel aos conceitos

Aos preceitos e aos direitos

Mesmo que sinta em meus peitos

O ofegar de todo meu desejo.

 

Tu és viril e como todo macho fugiu.

Fugiu! Mas machos não fogem

Mas tu, tu foges

Porque tu és fiel.

 

Deixarás os sabores para afugentar dissabores

Evitarás encontrar minha pele

Antes que a roupa com seu sêmen mele

Haverás de pecar em pensamento, nem perdão pedirás.

 

Não me encontrarás, não me tocarás

Ficarás taciturno com a mente a vagar

E aí irás lembrar com certo pavor

Do beijo e do amor que por medo não provastes.

 

Kátia Bicalho 21/12/2018

Minhas Mãos

Minhas são essas mãos

Há muito não afagam outras mãos

Há muito não percorrem outros músculos

Chegando de mansinho a alvos ocultos.

 

Estão limpas, mais finas e mais duras

Mais doloridas, sofridas, curtidas

Fazem arte em pedras, com ideias

Escrevem versos em mal traçadas linhas.

 

Mãos de manias, mãos de cera

Mãos que clicam, clicam com fervor

São muitas, me ajudam demais na rotina

São minhas, não são tuas, são elas, as mãos.

 

Kátia Bicalho – 20/12/2018

Férias de Tudo

Saí de férias geral e não retornei

À exceção do trabalho, todo resto eu adiei:

Ginástica, cursos, e claro a academia

Só por mais um mês, dois , três, enquanto durar a pandemia.

 

Liberei o pilates, a massagem, os cursos

Descansei o Merci Beaucoup  e o Thanks

Nenhuma língua estrangeira falei

Dei folga para o violão, nenhuma canção entoei.

 

Quem sabe até dezembro eu resolva me movimentar.

Mas aí vem Natal, réveillon

Creio que ainda não dá para rematricular.

Vou aguardar o próximo ano para uma atitude tomar.

 

Melhor esticar até finalzinho de janeiro,

Acho que em fevereiro consigo recomeçar

Mas aí vem carnaval, semana santa, não vai dar!

A vida me estimula sempre a postergar.

 

 

Kátia Bicalho                  

22/01/2020

O Computador

Esse "notebook" safado

Me roubou o primogênito

Perdi essa parada

Para esse robô nojento.

 

Meu rebento tão só

Passa o dia nele a teclar e eu,

Fico em casa, andando como uma lesma

Pois só converso com paredes e, às vezes, comigo mesma.

 

Para evitar silêncio total

Vira e mexe chamo: filhooo!

Ouço um hum! Conto um conto e pronto,

Corro para o“zap” para encontrar outro ponto.

 

Sei que poderia isso transformar

Agitar, criar, envolver, motivar

Mas quando me vejo no espelho

Também estou a teclar.

 

Faz parte do mundo moderno

O mundo gira e cada geração tem sua assinatura.

O que isso vai dar, só o tempo dirá,

Mas, acredito que não iremos escutar.

 

Me vejo como minha mãe

A repetir a todo momento:

Que tempo bom era o meu

Quando a rua era o melhor passatempo.

 

Kátia Bicalho

18/01/2020