terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Pero no Mucho


Creio, pero no mucho
Amo, pero no mucho
Odeio, pero no mucho
Confio, pero no mucho.

O copo nunca está cheio
Sempre tem dois centímetros de vazio
De oco, de fundo, de chão
De medo, de dúvida, de solidão.

Dois centímetros de nada
Mas, e o ar que aí se estoca?
Não o vejo, não posso tocar
Mas a lei da física afirma que ele ali está.

Então o copo nunca está vazio
Sempre cheio de alguma substância
O que falta, você não distingue agora,
Mas vai entender quando sair mundo afora.

Puxo o fio para dar corda,
Boto pilha para pilhar,
Boto lenha na fogueira para esquentar,
Busco a natureza como forma de acreditar.


Kátia Bicalho   14/10/2019

Estagnação


Vinte e quatro horas de paradeiro total
Silenciosamente remoendo passado
Inutilmente desenhando o futuro
Inconscientemente negando o presente.

Inércia total: corpo inerte, mente inerte
Estômago anestesiado, juízo aniquilado
Até o vento parou, o barulho estancou
O mundo, como estátua, cacrelou.

A decisão vai sendo adiada
Sempre, e a cada dia mais.
Amanhã tudo acontecerá
E nada sairá perfeito.

Só por um milagre, por força do além
Pois aqui em baixo sem decisão
Firme, embasada, diagnosticada
O outro dia será de estagnação anunciada.      

Kátia Bicalho – 20/10/2019

Minhas Crias


Escrevo, deixo descansar
Digito, deixo crescer
Reviso, deixo amadurecer
Se amadurece, ponho-me a colher.

A colheita é a exposição
Publicação de leitor único, eu mesma
Mas, registrado e historiado está
Muitas vidas que não me atrevo a contar.

Acredito que daqui a algum tempo
Não lembrarei dessas realidades retratadas
Mas, mudando o sentido das palavras,
Outras versões poderão ser imaginadas.

Kátia Bicalho – 20/10/2019

Controle Remoto


Comprei um controle remoto para controlar você
Cada aperto um flash! São muitos os comandos:
Botões de todas as cores, um tal de liga, desliga, religa,
Muda, aumenta, diminui, troca, escurece e brilha.

Aperto o botão de ligar e você vem para mim, sem teimar
Aperto outro botão, ganho beijo e abraço de amassar
Se toco no azul me tira os sapatos, no amarelo, alisa a minha blusa.
No branco me carrega em seus braços e, no vermelho, partimos pro abraço.     

Quando aperto o laranja, você canta para mim
O roxo me lambe a orelha e o pescoço,
Com o rosa, goza! Então resolvo resetar
E aperto o lilás para tudo recomeçar.

Kátia Bicalho – 21/10/2019

E Agora Joaquim?


E agora Joaquim?
Sem Josés, sem “azuis celestes”,
Sem joelho, joanetes e “janetes”
Sem o teu e o meu preciosismo
Sem foguetes e sem festas com ilusionismo.

Nem de longe a prepotência acentuada
Contrastando com um jeito meio meigo de ser.
O poder, o discernimento, o comando,
Nada mais faz parte de você.

Agora o corpo obeso, teso, duro
Tem a memória presa em algum neurônio caduco.
É como uma espada que nos golpeia e mostra que,
Nada será eterno, apesar da gravata e do terno.

Kátia Bicalho – 11/10/2019