quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Insensatez

 Ver-te sem olhar-te, amar-te sem desejar-te

Toda essa contraposição existente

Transforma-se em insensatez formalmente

Quando o amor não retribuído acontece.

 

Pensamentos transformados

Pensamentos transtornados

Cabeça quente, cabeça fria

Esquenta no fogo, esfria na pia.

 

Sons inerentes ao mundo

Sons inebriantes ao fundo

Zumbidos e sussurros arfam no peito

Estalos secos da madeira do leito.

 

Insensato coração vê sua foto

Incendeia o sentimento, cria fantasia

Perde a razão, da paixão se distancia

E a dor cintila no cálice de todo dia.

 

Kátia Bicalho - 04/08/2020

Expressões de Espanto

Eita atrás de eita,

Vixe atrás de vixe

Noooossa atrás de nóóóóó,

Que isso atrás de é meeeesmo!

 

Não passa um dia sem que

Uma dessas expressões sejam ditas:

É uma explosão, uma queimada

Uma falcatrua, um tsunami.

 

Uma pandemia, agonia

Isolamento, feminicídio

Racismo, distanciamento

Arbitrariedade, abortamento.

 

Se os outros planetas olhassem para a terra

Incrédulos perguntariam:  pode isso?

E nós o que responderíamos?

Como dizer que tudo aceitamos pacificamente?

 

Dizer que temos expressões as quais dizemos

Quando queremos demonstrar nossos sentimentos.

Mas nós sabemos que, com elas,

Não estamos mudando nenhum acontecimento.


Kátia Bicalho - 04/08/2020 

Oportunidade

 Oportunidade aparece sempre

Mas costuma ser discreta

Quem não estiver atendo

Vai achar que é apenas mais um acontecimento.

 

Se ela aparecer o sim tem que ser rápido

Certeiro, a jato, imediato

O momento de definição é o anterior

Na hora é a afirmação certeira, premeditada.

 

Aí, acontece! O lugar é seu,

O troféu será seu!

No mínimo o currículo enriquecido

E um aprendizado desenvolvido.

 

Kátia Bicalho - 03/08/2020

Velho tempo novo

O tempo passou

Mesmo no isolamento

Não importou com o momento

Correu e, se foi.

 

Alguns não puderam ver

Outros em casa ficaram e viram

Muitos saíram pouco, mas também perceberam

Poucos saíram muito e com o tempo correram.

 

O tempo parou onde quis:

Para ver uma flor ou um riso de criança

Viu gente dormindo, acordando

Sonhando, amando, desesperando.

 

Seguiu seu caminho, um pouco diferente

Entendeu que morremos mas, também vivemos

Que quando temos sede água bebemos

E a fome também resolvemos.

 

Entendeu que ele passando

Parando, andando ou correndo

Aqui estamos hoje e  amanhã também

Basta o sol nascer, se por e abraçar a lua com seu calor.

 

Kátia Bicalho - 03/08/2020

Lugar sem cor

 Lugar sem cor,

Sem fome, sem dor, nem amor

Lugar inodoro,

Nenhuma fumaça ou sombra chão afora.

 

Lugar de onde quero sair

Nunca mais entrar

Lugar de engatar marcha a ré, virar

E nem pelo retrovisor espiar.


Kátia Bicalho - 03/08/2020

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Verbo no infinitivo

Ter , tenho.

Mas será que tenho tudo mesmo?

Tudo pode ser fruto da imaginação.

 

Sentir, sinto.

Mas para onde vai esse sentimento?

Nasceu do nada para ele voltará.

 

Reagir, reajo.

Mas qual resposta melhor se enquadra?

Talvez relevar mais bem fará.

 

Chorar, choro.

Mas por quem derramo essa água salina?

Melhor ficar onde está e o olho lubrificar.

 

Amar, amo.

Mas a quem direciono esse calor?

Melhor girar e o amor espalhar.

 

Desistir, desisto.

Mas vou abrir mão dos sonhos?

Persistir combina mais com meu modo de agir.

 

Seguir, sigo.

Mas por qual caminho e até quando?

Pelo caminho que escolhi até o dia do fim.

 

Kátia Bicalho - 03/08/2020

 

Novo Normal

 Novo normal, quem viver verá!

Um mundo caótico saiu

Outro neurótico o substituiu.

 

Do novo pouco conheço

Do velho pouco sobrou.

Quem mentiu vai se redimir,

Quem se redimir, pecará novamente?

 

A expectativa caiu

A insegurança surgiu

O tédio persistiu

O ritmo se confundiu.

 

A música estagnou

A novela voltou

A fé aumentou

O povo não se reuniu.

 

O novo normal terá muito o que fazer

Ter que chamar o amor e a esperança para ajudar,

Terá que agendar muitos encontros com a paz

E se espelhar em uma criança para a alegria resgatar.

 

Kátia Bicalho - 03/08/2020

Paradeiro

Vinte e quatro horas tem o dia

Juntando dia e noite.

Oito horas de sono à noite

Mais oito horas durante o dia.

 

Sofá afundado

Almofadas amassadas

Geladeira atacada

Consciência pesada.

 

O que leva a nada fazer

Nada querer

Nada querer ver

Nada querer entender.

 

Se a missão foi cumprida

É hora de mudança radical

Mas para qual direção?

A da razão ou do coração?


Toda meio torta

 Sou toda torta, sou toda torta ou toda meio torta?

A começar pelo partido do cabelo sempre de um lado,

O dedinho do pé, que define a compra do calçado,

O pensamento que busca mais ou menos o que importa.

 

A sombrancelha da direita,  uma curva torneada

A outra, só com corretivo e se tiver muita sorte.

Os cílios cobrem grandes olhos disformes

Que enxergam ao mesmo tempo o sul e o norte.

 

Os dentes, eu diria, fator patognomônico

Meu registro, meu CPF corporal.

Sendo eles assim, lá se vai a boca a pender para um lado

Mostrando só parte do esmalte amarelado.

 

E vai descendo, vai descendo, vai descendo

Com régua não se mede, pois, a régua é reta.

Minto, com minha régua posso medir

Porque ela também é torta.

 

Sendo assim, como posso fazer uma arte

Que seja reta, redonda, perfeita?

Como acertar a bainha da calça, da alça?

Nada, nada sai reto, pois minha risca é sempre torta.

 

E, sendo assim, acaba que tudo meu é único

Pois ninguém consegue repetir aquele pavio da vela mais pra direita,

Aquela música tocada em tons profundamente agudos,

A poesia entrecortada de sim, não, talvez, imensos por quês.

 

“O que tenho de torta, tenho de feliz”!

Tenho de vontade de acertar, nem sei acertar qual meta,

Tenho de coragem depois que o medo cede espaço,

Tenho de sã quando a loucura se distrai e caminha em linha reta

Quero ser feliz


 

Quero ser feliz, ser liberto

Ser contente e correto

Ser vida, ser luz

Ser como a fé e a cruz.

 

Ser pensante também aprendiz

Ser encontro também raiz.

Ser lama, ser dama, ser cama

Na magia de um dia feliz.

 

Ser sal

Ser sol

Ser lua

Ser estrela que conduz.      

 

Ser ser que saiba

Ser que caiba

Ser que ouça

A todos e a si.


sábado, 17 de outubro de 2020

Peça de Um Armário

Às vezes me sinto

Como uma peça de armário

Pendurada em cabide

Aguardando ser convocada.

 

Peça ao lado de peça, 

Peça comum, de cor variada

Ás vezes, por anos, ali esticada

Sem nenhum conjunto a compor.

 

Peça de armário que não se impõe

Que pode nunca ser a escolhida

Que ficará ali estendida

Só mudando o lugar na fila.

 

Kátia Bicalho – 12/02/2020

Afasta de Mim Esse Cálice

Como és correto

Jamais em meus braços deitarás

Ou o gosto da minha boca sentirás

Nem no calor das minhas entranhas gozarás.

 

És fiel aos conceitos

Aos preceitos e aos direitos

Mesmo que sinta em meus peitos

O ofegar de todo meu desejo.

 

Tu és viril e como todo macho fugiu.

Fugiu! Mas machos não fogem

Mas tu, tu foges

Porque tu és fiel.

 

Deixarás os sabores para afugentar dissabores

Evitarás encontrar minha pele

Antes que a roupa com seu sêmen mele

Haverás de pecar em pensamento, nem perdão pedirás.

 

Não me encontrarás, não me tocarás

Ficarás taciturno com a mente a vagar

E aí irás lembrar com certo pavor

Do beijo e do amor que por medo não provastes.

 

Kátia Bicalho 21/12/2018

Minhas Mãos

Minhas são essas mãos

Há muito não afagam outras mãos

Há muito não percorrem outros músculos

Chegando de mansinho a alvos ocultos.

 

Estão limpas, mais finas e mais duras

Mais doloridas, sofridas, curtidas

Fazem arte em pedras, com ideias

Escrevem versos em mal traçadas linhas.

 

Mãos de manias, mãos de cera

Mãos que clicam, clicam com fervor

São muitas, me ajudam demais na rotina

São minhas, não são tuas, são elas, as mãos.

 

Kátia Bicalho – 20/12/2018

Férias de Tudo

Saí de férias geral e não retornei

À exceção do trabalho, todo resto eu adiei:

Ginástica, cursos, e claro a academia

Só por mais um mês, dois , três, enquanto durar a pandemia.

 

Liberei o pilates, a massagem, os cursos

Descansei o Merci Beaucoup  e o Thanks

Nenhuma língua estrangeira falei

Dei folga para o violão, nenhuma canção entoei.

 

Quem sabe até dezembro eu resolva me movimentar.

Mas aí vem Natal, réveillon

Creio que ainda não dá para rematricular.

Vou aguardar o próximo ano para uma atitude tomar.

 

Melhor esticar até finalzinho de janeiro,

Acho que em fevereiro consigo recomeçar

Mas aí vem carnaval, semana santa, não vai dar!

A vida me estimula sempre a postergar.

 

 

Kátia Bicalho                  

22/01/2020

O Computador

Esse "notebook" safado

Me roubou o primogênito

Perdi essa parada

Para esse robô nojento.

 

Meu rebento tão só

Passa o dia nele a teclar e eu,

Fico em casa, andando como uma lesma

Pois só converso com paredes e, às vezes, comigo mesma.

 

Para evitar silêncio total

Vira e mexe chamo: filhooo!

Ouço um hum! Conto um conto e pronto,

Corro para o“zap” para encontrar outro ponto.

 

Sei que poderia isso transformar

Agitar, criar, envolver, motivar

Mas quando me vejo no espelho

Também estou a teclar.

 

Faz parte do mundo moderno

O mundo gira e cada geração tem sua assinatura.

O que isso vai dar, só o tempo dirá,

Mas, acredito que não iremos escutar.

 

Me vejo como minha mãe

A repetir a todo momento:

Que tempo bom era o meu

Quando a rua era o melhor passatempo.

 

Kátia Bicalho

18/01/2020

sábado, 12 de setembro de 2020

Novo Labirinto

 Do sonho leve

Ao medonho, quase  insano,

A vida de todos nós

Se parece um labirinto estranho.

 

Imagine ver o mundo de cima

Quais cenas veríamos mais,

Gemidos em leito proibido da amada ou

Gritos de pavor da navalha afiada?

 

Como seria o julgamento

Pela lei do homem ou pela do livramento?

Quem atiraria a primeira pedra, redonda,

Sendo visto de cima, sem teto nem sombra?

 

Kátia Bicalho – 16/102019

Ilusão de Folia

 Se tem época boa pra descontar o ano minguado,

Em nosso país, se chama carnaval.

Nesse tempo queira ou não queira                         

Um bloquinho você vai seguir.

 

Entre suor, cerveja, dança

Provavelmente um beijo vai surgir

E nesse momento se joga

Se esquece do amanhã e do porvir.

 

Aí o amanhã chega, normalmente com cinza na testa

Daquele beijo, só lembrança.

Que te infla o ego, te joga nas compras.

Lavada a cinza, só a dívida te resta.

 

 

Kátia Bicalho – 17/03/2020

 

Moço Bom

 Moço bom, belo e charmoso

Jovem mancebo solto no ar

Inteligência ímpar, pragmática

Experiência consciente de um vencedor.

 

Muito jovem para seu imenso saber,

Muito jovem para criar um ser,

Muito jovem para homem ser,

Muito jovem para se entristecer.

 

Porte atlético, alto esguio

Roupas sujas maltrapilhas, quase mendigo

O dever o chamando à labuta

Para cumprir seu destino e vencer a luta.

 

Kátia Bicalho – 17/03/2020

A Paz e a Lua

Em noite alta de lua cheia

Apaguei as luzes para ir dormir

Ao instaurar a escuridão

Estranhamente senti paz e emoção.

 

A lua com toda intensidade

Invadiu a escuridão do meu lugar

Entrando assim sem se convidar

Conseguiu atingir minh'alma, esse íntimo lugar.

 

A casa clara pela luz da lua

Me deixou livre para navegar

Talvez voar, talvez andar na rua, nua

 Sem me importar com a dor ou a doçura.

 

 

Kátia Bicalho = 17/03/2020

Lua Especial

Apareceu linda

Grande e luminosa

Chegou mais perto da terra

E se destacou no meio da noite.

 

Me fez ter sonhos

Prateados, dourados,

Da cor de palha de milho,

De fita amarela no laço.

 

Sonhos da cor do seu chapéu,

Aquele que vem com um sorriso,

O sorriso que vem com um beijo,

O beijo com um enorme desejo.

 

O mundo estancou no tempo

A perfeição parou naquele momento

A ilusão no passado inexistente

O desejo num futuro incandescente.

 

Kátia Bicalho – 06/03/2020

 


domingo, 9 de agosto de 2020

Qual é, chulé!

Qual é, chulé!

Larga do meu pé!

Sai de mim, do meu sapato

Tá parecendo carrapato.

 

Sai folgado, pilantra

Vai pro seu quadrado

Perto de mim não fica

Rolo de fumo ensacado!

 

Sai jararaca come essa galinha

Com farinha e com cachaça

Não me venha com beijinho

No rosto e nem no ombrinho

 

Fora criatura,

Que para ser aceita pia mas que saracura.

Sai pé de porco, peixe elétrico, pata de elefante

Se manda daqui, se grude em outro pé e siga avante.

 

Kátia Bicalho – 06/032020

Olho Vivo

 Olho vivo

Com olho vivo

Só assim vejo

Tudo do meu jeitinho.

 

Pensa bem

Não esquenta

Chega e pronto

O tranco você aguenta.

 

Pega firme

Joga fora

Joga limpo

Cai e chora.

 

Prosa sem fundo

Prato que é raso

Rede baixa

Pede cachaça.

 

Chega a noite

Busca o dia

Arde o nariz

Corre e espirra.

 

Kátia Bicalho – 02/03/2020

Bebe Tião, Come Tião

 Essa frase "Bebe Tião, come Tião"

Ficou pragmatizada

Representa a festança

Mistura de fartura e comilança.

 

Quando algo vem em excesso

Ou quando pecamos no uso

A frase logo é dita

"Bebe Tião, come Tião".

 

Prontamente entendida

Representa a falta de moderação

A luxúria e o esbanjamento

Os quinze minutos de fama.

 


Então para deleite de todos a frase inteira exponho:

“Bebe Tião, come Tião.

- Hoje nós morre pai!

- Mas morre feliz, meu filho.”

 

Kátia Bicalho - 06/03/2020

Peça e Receberá

 Peça e receberá

Mas cuidado com o pedido

O universo conspira a favor

Por isso especifique bem.

 

Pedi e recebi

Agora por ser preconceito vou desistir?

Na dúvida vou pouco investir

Sem deixar a peteca cair.

 

Se Deus mandou

Algum sentido Ele viu

Então por que não paro de questionar

E me ponho logo a deleitar?

 

Kátia Bicalho – 06/03/2020

Vou e Não Vou

 

Vou participar do 60 e mais

Vou

Vou ler o estatuto do idoso

Vou

Vou procurar um geriatra

Vou

Vou fazer bariátrica

Não vou.

 

Vou cochilar em frente a TV

Vou

Vou escutar a rádio Itatiaia

Vou

Vou lembrar dos tempos antigos

Vou

Vou criticar os tempos atuais

Vou

Vou viver sempre feliz

Vou

Vou envelhecer mais

Não Vou.

 

Nasci, cresci, envelheci

Por isso ainda não morri!

 

Kátia Bicalho – 04/03/2020