Dor de cabeça,
Enjoo, náusea,
Não quero, não me pertence,
Não é minha praia.
Não quero, não vou.
Vou sustentar minha saúde
O tempo necessário
Para cumprir minha missão,
Mesma que ainda não saiba qual.
Vou ser eternamente jovem e saudável até chegar lá.
Minha energia é sustentável,
Minha reserva inesgotável.
Sou aluna, sou mestre,
Sou criança, sou mãe,
Sou perna, sou pé,
Sou braço, sou abraço.
Sou tempo perdido, tempo aproveitado,
Sou lugar comum e camarote de rei.
Sou lua, sou sol, sou estrela, asteroide.
Sou bicho domesticado, e fera selvagem.
Sou dona do meu pensamento,
Sou consciente e dona de mim.
Sou dúvida, sou ninguém, sou quem procuro.
Sou vinho, sou uva, sou semente e casca,
Sou água, sou taça, sou borbulha e gás.
Sou cardápio francês, cogumelo e elegância,
Sou prato de feijoada, caipirinha, pia cheia.
Sou sofá, sou tapete, sou almofada, sou pantufa,
Sou óculos embaçado pendurado no nariz.
Sou alegria, sou calma, sou luz na solidão.
Sou raiva, impaciência, melancolia no encontro com o irmão.
Sou lâmpada, sou poste e lampião,
Sou vela apagada, pavio queimado,
Conexão feita e desfeita.
Sou e não sou, fui e fiquei,
Trouxe, levei, guardei, depois rasguei.
Ouvi e esqueci, assisti mas não escrevi,
Libertei-me e me perdi,
Gastei o tempo e ganhei futuro,
Gastei o futuro e perdi o presente.
Pus na bolsa a carteira, o lenço e o pente.
Voltei logo depois só com a bagagem da mente.
Kátia Bicalho – 28/07/2017