domingo, 11 de dezembro de 2016

Agradecimento a Vida

Obrigada pela infância feliz
Pela adolescência emburrada
Pela mocinha do interior
E pelo caminho traçado.

Obrigada pelo meu gênio forte
Pelas minhas decisões
Pelo dom de tocar violão
Pelas noites do Sobradão.

Obrigada pelos dois concursos em que fui aprovada
Pelo curso de psicologia, porta aberta
Pela decisão sublime de ter um filho
Em idade já avançada, e, ter sido tranquilo.

Obrigada pela minha família,
Certeza de presença na hora exata,
Pelas secretárias que me ajudaram
A seguir em frente a jornada.

Obrigada pelo colégio perto de casa
Pelo seu ensinamento cristão e cidadão.
Pela aposentadoria na hora certa,
Pela vida que ainda me cerca.

Obrigada pelos amigos antigos e novos,
Pelo trabalho que executo com prazer,
Pela Gamôra que veio me fazer companhia
E me tirar da zona de conforto.

Só tenho a agradecer,
Nada a arrepender.
Tudo que fiz e faço
É o que consigo fazer.

Kátia Bicalho

26/09/2016

Jogo do Amor

Quem joga esse jogo
Sabe o quanto doí perder
Mas, se, se ganha,
O resto é só prazer.

Arriscado é,
Como todo jogo.
Mas vale a pena arriscar
Para no futuro não se cobrar .


Kátia Bicalho – 11/08/2016

Como será minha casa

Na minha casa terá um cachorro
E  tantos quantos forem seus filhotes.
Uma calopsita para substituir Neymar
Um gato, um rato e um besouro.

Terá uma tartaruga, um papagaio,
Bombom Sonho de Valsa na bomboniere,
Vinho tinto no balde de gelo,
Um chinelo velho para arrastar.

Sabem que imagem me vem?
De Maria Amélia com o Toninho,
A índia e o oficial,
A ateia e o religioso.

Sempre me achei parecida com ela:
Um tanto antissocial,
Um pouco na sua,
A cabeça de acordo com a lua.

Vejo com serenidade essa semelhança
Pelo que sei ela foi muito feliz,
Apesar dos óculos fundo de garrafa
Pendurados na ponta do nariz.

Kátia Bicalho - 15/10/2016


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O mundo e a roda

O mundo gira, gira o mundo
Roda para todo lado
Sempre redondo e azul
Nos mostra o norte e o sul.

Nessa bola leve e flutuante
Cheia de gente e ambulante
Sempre tem alguém que inventa a roda
E grita no alto falante.

Aí a gente percebe
O quanto tudo é fugaz
Que por mais que os anos passem
Continuamos como nossos pais.

Tudo é cíclico, sazonal
Outono, Inverno, primavera, verão
A natureza com seus bilhões de anos
Nos ensina que somos meros humanos.

Kátia Bicalho

15/10/2016

Fundo do Poço

Chegar ao fundo do poço
Sem ter cavado o buraco.
Caí sem perceber e me jogaram só osso
Me afundei até o pescoço.

Preferi ficar só
Até sentir vontade de subir,
Escalar os primeiros degraus
E desse fundo sair.

Escalada dura e solitária
Que apertou o peito e o coração.
Apertou o estômago e o abdômen
Sem diferença entre mulher e homem.

Foi necessário muita espera
Para a lucidez alcançar.
Passar um, dois, três dias
Até o mês completar.

Na demora para no topo chegar
Só ajuda a certeza que tudo vai passar.
Nessa andança todo o tempo e sentimento
Em vida nova vai se transformar.

Kátia Bicalho

17/09/2016

SamBHar

Quem disse que BH só tem bar
Quem disse que BH não tem mar
BH tem tudo isso e muito mais
Porque tem samba e sabe amar, amar, amar.

Sambo miudinho
Sambo forte
Sambo até o sol sumir no monte
Me lanço no samba gostoso de Belo Horizonte.

Samba de pobre, samba de rico
Samba de quem nasceu pra sambar
Mesmo quem não tem eira nem beira
Samba e levanta poeira.

Sambe, sambe, sambe sem parar!
Sem sapato pra ponta do pé levantar.
O samba é santo, o samba é encanto,
É aqui e agora que quero “samBHar”.

Kátia Bicalho

28/09/2016

Tum, tum, tum tum

Intermináveis, sequenciais
Da hora que inicia e termina o dia
Poeirão que sobe
Cheiro que exala no ar.

Tem obra na vizinhança
Se não é do lado esquerdo
É do lado direito e se não for
É de cima ou de baixo.

Tum, tum, tum, tum
Primitivas ferramentas
Força humana conjugada
Adequação de espaço.

Só de pensar em obra por fazer
Minha mente tende a doer
Haja tolerância e ouvido
Pro labirinto não se perder.

Kátia Bicalho

11/10/2016

Doce Sabor do Doce

O pedaço desejado do chocolate
Vai sendo dissolvido pela saliva,
Lentamente degustado pelas papilas
E, finalmente, escorre com prazer pela garganta.

Ao passar o último pedacinho
Aparece o gostinho de quero mais!
Aí, sem conseguir resistir,
Mais uma barrinha vai passar por ali.


Kátia Bicalho – 26/11/2015

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Sair do Prumo

Lança o prumo.
A peça metálica, presa ao fio transparente,
A parede e o muro vai alinhar,
Para a construção, serpente não virar.

Na vida não existe o instrumento.
O que te alinha são os valores e o sentimento
E, é só a adversidade aparecer,
Para o prumo na vida desaparecer.

Ao sair do prumo
Deve-se logo retornar,
E, se não achar o caminho,
Deve-se ajuda procurar.

Muro, parede, parede, muro.
Coração, razão, razão, coração.
Pega o prumo e atira-o ao chão
Porque a vida não é reta não.

Kátia Bicalho

10/10/2016

Morte momentânea

Morri hoje por dez segundos
Fiquei como uma imagem de cera
Mas, o olhar que se fixava no chão,
Viu de relance bater o coração.

Esse órgão que insiste em se mexer
Empurrou o ar, o diafragma e o pulmão
Aí, o movimento voltou,
E o lápis, de novo, no papel escorregou.

Kátia Bicalho

13/08/2016

Paixão

Não gosto de discutir futebol, política
Nem falar de religião e paixão.
Nesses conflitos não caio mais.
Ah! Mas como não falar de paixão!

Paixão que deixa o corpo com dormência
Que enruga a testa e arregala os olhos
E que só traz “sofrência”.

Paixão que é sempre desmedida, alada
Que, como a erva daninha, engole a mata
E, mata, desata, desmata.

Paixão que com o tempo desaba
Vai amainando como a brasa que se apaga
Mas, se engana quem pensa que acaba.

A loucura se cura e vira amor.
Amor que ata, acata, acolhe,
Que deixa o rosto sereno e o coração mole.

Só louco, não apaixona e não ama!
Sou louca, pelo amor
Da minha paixão por ti.

Kátia Bicalho
24/10/2016



Pulei Agosto

Dizem que é o mês do desgosto
Ou também que fica “Agosto de Deus”.
Simplesmente pulei Agosto,
Nada escrevi, nada fiz, nada vivi.

Nem vi, passou sombrio, triste e seco
Passou sem vida, ou com vida partida.
Aprendi com isso que o passado passou,
Nada será exatamente como antes.

Tudo vai tomando outro jeito de ser,
Outros contornos se formam,
Outras formas de se relacionar
E a difícil missão disso aceitar.

A vida muda, transforma!
Não procure no presente
A mesma pessoa que você foi
E muito menos, no futuro, a que você será.


Kátia Bicalho – 04/11/2016

Tatuagem

Simbologia desenhada
Na pele arranhada
Segurança e ilusão
Em forma de flor ou avião.

Inicia e não para mais
O corpo todo vai pintando
Os desenhos aumentando
Mente e alma se transformando.

É bonito de se ver
O nascimento de uma tribo.
E tem quem teime e insiste
Em eternizar um alambique.

Mesmo os de avançada idade
Querem na pele escrever
Para gravar o desejo de ainda ter
Sorte, amor, vida e prazer.

Kátia Bicalho

20/09/2016

domingo, 30 de outubro de 2016

Mulher sem medo

Não quero só vencer meus medos
Quero vencê-los e não tê-los.
Quero comemorar cada avanço
E brindar cada conquista sem eles.

Talvez corra mais riscos
E quem sabe, gere algum estremecimento,
Mas, enfrentá-los será o remédio,
Que irá curar cada marca do sofrimento.

Mulher coragem, mulher sem medo
Mulher macho sim senhora!
Mulher de terra, água, fogo e ar!
Mulher de fé, mulher que agora se aflora.


Kátia Bicalho – 20/07/2016

Alinhavo

Tento seguir a poetiza
E alinhavar o coração rasgado
Com a linha do recomeço,
Mas, esquecer você, será o meu preço.

Essa colcha de retalhos rasgada,
Teve a emenda da leveza recortada sem zelo.
O vazio que ficou ainda espera outra peça
Que será costurada com um fio de seu cabelo.

Assim a colcha será recuperada
E também ficará levemente perfumada
Com o odor do seu pelo arrancado
E que ficará, para sempre, nela, impregnado.


Kátia Bicalho – 26/05/2016

Badalo do Sino

Sino que bate
Na pequena cidade
Bate, bate, todo o dia
Vai soando tempo afora.

Badala na hora da missa
Ao sair o féretro
Na hora da Ave Maria
E quando termina o dia.

Na cidade grande ninguém ouve,
Não fica sabendo quem nasceu, quem morreu
Não sabe reconhecer o abençoado blém-blém
Pois outros sons tocam também.


Kátia Bicalho 27/11/2015

O Aço

O aço frio e forte
Em espinhas traçado,
Entrelaçou!
Em forma de peixe prateado,
Apenas na imagem criado,
Todo o poder concentrou,
E todo poderoso,
Me salvou!
Permanecerá entrelaçado?
Só o tempo dirá:
Se transcenderá o mal
Ou se enferrujará.

Kátia Bicalho

14/10/2016

Beleza Masculina

Pele lavada
Barba por fazer
Corte de cabelo tradicional
Nariz curvo e pontiagudo.

Marcas na pele, um charme!
Orelhas sem brinco, um desarme!
Camisa de manga, regata, de malha
Bermuda xadrez com sandália de couro.

Perfume marcante com cheiro de homem
Mochila nas costas ou maleta preta
Alinhamento simples e discreto
Para viver neste mundo de concreto.


Kátia Bicalho

28/10/2016

Confiança

Anos para construir
Um segundo para destruir
Todo cuidado é pouco.
O que se vê, pode não ser o que é.

Um fato, mesmo que nunca existiu,
Criado por pura ilusão de ótica,
Sem ter como provar,
Gera confusão caótica.

Um, tendo a certeza da sua verdade,
O outro, segue na teima da sua credulidade.
E nesse ninguém entende ninguém tem sempre alguém,
Que paga pelo pato que fugiu de verdade.


Kátia Bicalho-17/09/2015

Medo de Viver

Tem medo de amar
E de odiar;
Tem medo de ousar
E de se acomodar;
Tem medo de falar
E de se calar;
Tem medo de magoar,
E de ser magoada;
Tem medo de se expor,
E de se esconder;
Tem medo de procurar
E de se achar;
Tem medo de morrer
E de continuar a viver.


Katia Bicalho

29/02/2016

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Prêmios

Quantos prêmios ganhamos
Durante a viagem terrestre?
Quais valorizamos e quais desprezamos?
Quantos carregamos e quantos destruímos?

Prêmio da vida,
Da saúde, do estudo,
Da crença, do filho,
Do trabalho, da amizade.

Prêmio da moradia,
Da água clara e pura,
Do alimento sem mistura,
Do vinho e sua doçura.

Prêmio do amor,
Do bichinho de estimação,
Da tecnologia ao alcance da mão,
Da caminhada rumo a ressureição.


Kátia Bicalho – 26/05/2016

domingo, 11 de setembro de 2016

Grito dos Emudecidos

Ouvir um grito de quem não gritou
É como ranger de portas onde óleo não passou.
Não se sabe quando inicia nem quando termina
Mas apenas se sente surdo barulho, enlouquecedor.

Não é como o motor que estourou,
Nem como o calor que o gelo eliminou,
Nem como a pressão do corpo cuja mente esgotou
Ou como o espinho da rosa que  a um dedo furou.

É como um peso morto sobre olhos que caem,
Como o lobo que a um cordeiro devorou.
O grito que do âmago não saiu
Implodiu em dor que ao mundo atingiu.


Kátia Bicalho – 18/07/2016



Do Ponto Onde Estou

Do ponto de partida
Até a porta de saída
Vê-se um pouco da linha
Que não terminou a bainha.

O olhar que nunca encara
O mundo que em outro não se encaixou.
Do buraco que fica no estômago
Do alimento que não chegou.



Kátia Bicalho – 19/06/2016

Pouco a Pouco

Pouco a pouco a alegria retorna
O sorriso se esboça no canto da boca.
Uma vontade de fazer algo diferente
E também comer coisa fria e quente.

Fazer planos, novos amigos,
Conhecer pessoas.
Mudar um pouco o mundo
Alterar a informação da rotina.

Ler, ouvir música, ver tv,
Caminhar, desenhar, colorir.
Escrever novos poemas e os publicar
Verificar os comentários em rede social.

Sair, pesquisar, nada comprar.
Olhar a crise do país com austeridade
No entanto, procurar em qualquer deserto,
Um oásis para pousar mas, que não seja miragem.

Kátia Bicalho – 19/06/2016


Cachola

Credo nessa cachola
Pensa muito sem parar
E não tem como tirar
Todo pensamento de lá.

Se fosse coisa boa
Acho que minha cara iria mudar
Mas, essa cabeça de “girico”,
Teima em um futuro desenhar.

Vou furar um buraquinho nessa caixa dura
Para de lá o pensamento voar,
Sair para tomar fôlego
E voltar sabendo que tem mais vida para olhar.


Kátia Bicalho – 20/07/2016

Ponte das Passagens

Imagina uma ponte
Onde passam muitas pessoas
Cada uma leva um fardo
Que do outro lado se transforma em sonhos.

Pode se transformar no que você quiser
Só que, em contrapartida,
Terá que pegar um fardo de alguém,
Voltar pela ponte, e transformar o fardo em problema resolvido.

Assim teríamos fardos e mais fardos do outro lado,
Sonhos e mais sonhos no lado da volta,
E na ponte da realidade, os
Problemas sendo solucionados.

Seria um corre corre
Para trocar fardo por sonhos
Mas, na casa da realidade,
Meia dúzia de gatos pingados.


Kátia Bicalho – 26/07/2016

Carga Leve

Toda carga pode ser leve
Se for vista de outro ângulo:
De cima para baixo,
De baixo para cima.

Depende de onde você se pendurar:
No galho da árvore,
No tapete da sala,
No friso da cortina.

Pense aberto e voe alto
Como o girassol a procura do sol.
Como um artista,
Viva vários personagens.

Leveza, retidão, coragem
Viço, alegria, reflexão
Defeitos todos têm.
Virtudes estarão sempre além.


Kátia Bicalho – 01/08/2016

Sonho Novo

Que sonho esquesito
Que sentimento estranho e bom.
Me vi amando alguém que não me merecia
Mas que de alguma forma me seduzia.

Sonho bom, real, envolvente
Acordei com pensamento diferente
Abri meu mundo para a possibilidade
E quem sabe sentir essa emoção de verdade.

Ainda não se realizou
Mas é nisso que meu pensamento focou.
Se a humanidade conspira sempre a favor
Não é um samba, mas, é com esse que eu vou.


Kátia Bicalho – 01/08/2016

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Assim Como

Asso o assado no forno,
Assim como,
Deixo o passado de molho,
Assim como,
Olho o futuro sem medo,
Assim como,
Vivo o presente inteiro,
Assim, 
Como o assado que ficou pronto,
Com molho, sem medo e inteiro.


Kátia Bicalho – 18/07/2016

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Parte de Uma Agenda


Amo estar nesta agenda
Feita pelo CROMG com todo cuidado
Me sinto num palco iluminado
Sendo aplaudida e vestindo dourado.

A poesia ali estampada,
Expondo um pouco de mim,
Revelando um lado do meu eu,
Não sei se bom ou ruim.

Nesta agenda muitos nomes serão anotados.
Quantos desmarcados, apagados,
O meu será rabiscado?
Em qual dia será agendado o meu amado?

No final tem sempre um balanço financeiro,
Entrada e saída de pouco ou muito dinheiro,
Resultado do trabalho realizado com esmero,
Proporcionando muitos sorrisos frente ao espelho.

A agenda será depois guardada
Ou talvez no lixo atirada,
Pois passados os dias daquele ano
Não dá para traçar mais planos.

Eu guardo todas as agendas
Pois um pouco de minh’alma ali se aninha.
Respiro, me inspiro para nela continuar
E, em cada recanto de Minas, me encontrar.

Kátia Bicalho - 24/10/2015

Abominável Homem das Neves


Olha o estado em que me encontro
Sem enxergar a realidade.
Posando com pose de antigamente
Como se fosse minha mocidade.

Coisa que só acontece na ausência do espelho
E quando o superego longe está.
Mas o desenrolar da fugaz história
Não vai, na memória, espaço ocupar.

Abominável homem forte das neves
Quanta insegurança dá, ao seu lado estar.
Mais uma vez o tempo rei cura
O que em coma poderia ficar.



Kátia Bicalho – 02/06/16

Amigos Irracionais


Cachorros, gatos, galos, macacos
Patos, gansos, galinhas, pintos e porcos.
Tudo existia na casa de quintal extenso e
Eram parte da paisagem e da rotina.

Até que se comportavam bem.
Cada um no seu quadrado,
À exceção de Peri
Que tinha solto o flato.

Mazurkiewicz, Brazuca, Akiko
Todos meus irracionais amigos
Bichinhos de estimação,
E também da confusão.

Proporcionavam muitas brincadeiras,
Muita energia trocada e gasta.
Convivência estapafúrdia e feliz
Mesmo que, as vezes, era preciso tampar o nariz.



Kátia Bicalho – 02/06/2016

Olgas, Marias e Outras

“Traiô Birô”, cantava Olga no labor
Ouvindo seu radinho escondido no porta-seio.
Maria, corpo farto e macio,
Aconchegava todas as crianças como um abrigo.

Fortaleza, simplicidade, amizade, cuidado, sonho
Que se misturavam com o doce das quitandas,
Com alegria, correria, confusão
Tudo dentro da rotina do casarão.

Um dia perguntei o que era solidão
Foi Olga que prontamente me respondeu:
Solidão era a parte traseira do corpo,
Mais precisamente o assento.

Por muito tempo acreditei
Que me assentava em cima da solidão.
Talvez esse pensamento seja menos trágico
Do que o significado real desta situação.


Maria e seu Bolero, que não era Ravel,
Em casamento terminou.
Ela com toda sua estrutura
E ele com seu sorriso grato.

Minaminá e muitas outras passaram por esse lugar.
Nos acompanharam por longo tempo,
Ajudaram na criação da prole,
E, digo que, sem elas, não seria mole.

Kátia Bicalho – 02/06/2016


Sombra

Minha sombra descolou e fugiu.
Foi para o mundo se encontrar.
Andou estradas, ruas, vielas
E com outras sombras pode conversar.

Não sei se contou minha história,
Nem o que ouviu nesse espaço sem fim.
Só sei que retornou calada
E, continua fiel, andando atrás de mim.

Kátia Bicalho – 05/07/2016


sábado, 4 de junho de 2016

Eu não sou ninguém

Sou alguém que não vê ninguém
Sou ninguém sem outro alguém.
Sou silêncio em profusão
Sou barulho na escuridão.

Sou a menina, a mulher, a mãe
Sou todas e também raíz.
Sou o toque do badalo no sino
Sou o pingo d’água no chafariz.

A pomba branca que leva o recado
A tartaruga que nunca chega ao destino
O coelho que tão rápido passa do ponto
O gato que de tão arisco pinta um rabisco.

Nada sou, nada sei
Quando estou só comigo
Minha sombra pede licença
E me deixa sem um abrigo.


Kátia Bicalho – 26/05/2016

Sem Namorado

Doze de junho, dia dos namorados
Vários apaixonados programando a noite
Presentes especiais são comprados
E muitas fotos em redes sociais.

Todo ano a mesma coisa
E eu aqui com meus pensamentos
Sem presente, sem telefonema
Sem bouquet de flor, nem chinelo Ipanema.

Até que acho bom não ter o estres de:
Não achar a roupa adequada, trocar mil bolsas e sapato,
De entregar o presente e ele não gostar,
De não gostar do presente dele, que fiasco!

Tem o estres dos lugares lotados
De motéis abarrotados
A expectativa de noite de princesa
Que muitas vezes acaba em tristeza.

Apesar disso tudo digo, sinceramente,
Que é a última vez que passo esse dia diferente
Pois que a paz reine em outro quadrado
O que quero é um namorado em mim grudado.

Kátia Bicalho - 12/06/2015






Só e Fim

Só na solidão
Solidão sem paixão
Paixão sem fundamento
Fundamento sem razão.

Ilusão sem visão
Visão sem luz
Luz sem calor
Calor sem proteção.

Proteção sem mão
Mão sem arma
Arma sem bala
Bala sem doçura.

Doçura sem açúcar
Açúcar sem café
Café sem aroma
Aroma sem flor.

Flor sem espinho
Espinho sem sangue
Sangue sem corte
Corte sem facão.

Facão sem canavial
Canavial sem fogo
Fogo sem destruição
Destruição sem fim.

Fim sem começo
Começo que acaba no fim
Fim sem ponto final
Final sem sinal.

Kátia Bicalho – 26/05/2016




Imagem

Imagem pura,
Imagem destorcida,
Imagem que nunca se apaga.
Imagem que se foi e não mais voltará.

Breves sorrisos,
Lágrimas sentidas,
Beijos marcados,
Bocas em batom.

Cabelos ao vento,
Areia pelo corpo,
Tatuagem na pele,
Cicatriz no coração.


Kátia Bicalho – 26/05/2016

Hibernação

Hibernei hoje para
Colocar a cabeça no lugar
Arrumar espaço para organizar ideias
Tomar decisões, respirar.

Fiquei em silêncio
Para ouvir meu coração
Escutar os pensamentos escondidos
Perceber imagens sob a sombra da visão.

Descansei todo o dia
Para repousar as batidas do pulso
Que ainda pulsa
Deixar fluir o sangue pelos longos caminhos.

Fiquei assim por longo tempo
E as questões foram se clareando
A dúvida foi se dissipando
E as decisões se aproximando.


Kátia Bicalho – 26/05/2016

Maturidade

Mato, ira, idade
Mato essa idade
Matutei nessa cidade
Mesclei viço com vaidade.

Coisa de moço velho
Cabeça de velho moço
Tem hora para tudo
Começando a partir do almoço.

Cabelo de prata, brinco de ouro
Não suporta mais jaqueta de couro
Navega na noite feito um touro
Mas dorme cedo em cama de louro.

Coisa de velho
Coisa de gente esquisita
Maturidade com naturalidade
Maqueia a idade.



Kátia Bicalho – 26/02/2016


Boca Calada

Tenho me exposto demais
Falado muito sobre mim
Com quem conheço e me ama,
Também com pessoa estranha.

Me arrependo depois
Mas palavra dita não retorna:
O que tinha para dizer já foi lançado
O que tinha que calar, foi falado.

Inocência, carência ou solidão,
O que me faz falar assim em vão?
Decidi calar a partir de então
Da minha boca não sai nem mesmo palavrão.


Kátia Bicalho – 26/02/2016

Grafite

Não escrevo mais sobre você
Não merece que gaste meu grafite
O universo gira, dança e retorna
E eu aqui esperando seu convite.

A sua imagem se esfumaçando,
Se perdendo entre roupas e tapetes.
O seu perfume se evaporando
Misturando-se a fragrâncias baratas.

A voz doce e sussurrante,
Que embalava meus sonhos,
Se calando num longo e profundo silêncio.
A esperança enfim, desfalecendo.

Não, não vou mais gastar meu grafite
Escrevendo, em várias laudas, extensas juras de amor 
O lápis preto, apontado em riste, em cima da mesa
Ficará à espera de uma nova sobremesa.


Kátia Bicalho – 21/05/2016

Nada de Ti

Se não me fizestes sofrer
Nem arder de desejo.
Se não me desprezastes,
Nem me chamastes,
Como então me pedes mais versos?


Se não te ouço,
Se não recebo tuas mensagens,
Se não postas nada por mim,
Se não ousas tocar em mim,
Como queres que cante ou
Escreva poemas de amor para ti?


Não me peças o que não me dás,
Não me prometas o que não vais cumprir,
Não me enlouqueças,
Não desapareças,
Nem nunca mais apareças.

Kátia Bicalho – 20/05/16



domingo, 29 de maio de 2016

Tive Que Te Abandonar

Tive que te abandonar
Por causa da sua ausência longa e muda,
Que não me deu outra opção, e,
Entre aplauso e música, caí em tentação.

Senti um gosto meio seu
Na outra mistura de lábio, língua e dente
De algo muito especial
Flambado com aguardente.

Deixei-me levar pelo momento,
Pelo porte de segurança,
Pela ideia de não ser você,
Pelo prazer sentido nessa vingança.

Já não o reconheço em minha vida
Vejo agora, naquela foto, um garoto mimado,
Que escapou de um temporal e
Ainda se encontra assustado.

Kátia Bicalho – 29/05/2016


sábado, 7 de maio de 2016

Ele Voou, Ela Chorou

O passarinho bateu asas e
Voou, voou, voou
A moça ficou sozinha e
Chorou, chorou, chorou.

O coitadinho nunca mais voltou porque
Voou, voou, voou
A coitadinha nunca mais sorriu e
Chorou, chorou, chorou.

O bichinho virou gente, cresceu e
Voou, voou, voou
A mocinha virou bicho, emudeceu e
Chorou, chorou, chorou.

Ele livre por aí, desapareceu e
Voou, voou, voou,
Ela presa em fúnebres pensamentos
Chorou, chorou, chorou.

Kátia Bicalho – 19/04/2016

Eu Te Amo

Eu te amo
Mais que todos os amantes
Mais que todos que morrem e vivem por amor
Amor que não cabe em mim.

Te amo com tanta força
Que desfaleço por este amor
Um sentimento tão forte e alucinante
Que provoca uma dor aguda e lancinante.

Quero você acima de tudo
Sentir seu perfume é imprescindível
E o gosto quente da sua boca
Necessidade básica indiscutível.

Não me deixe ao leo da sorte
Dê meia volta, pense e volte
Nunca encontrará amor maior
Nem mesmo após minha morte.

Kátia Bicalho – 07/05/2016



Estou com saudade de mim

Essa frase soou alto
Bateu como um sino que chama pra missa
Tirou o sossego de quem dormia
E ecoou como grito em montanha .

Saudade da coragem
Da criatividade
Da vivacidade
Da musicalidade.

Fazer o que gostava
Gostar do que fazia
Roda de amigos e sonhos
Futuro a construir.

Hoje a pergunta: quem é essa que sou eu,
Cadê aquela outra,
Que momento foi que sumiu
E por esta se substituiu?


Kátia Bicalho – 11/04/2016

Promessa Feita

Vou te ganhar de qualquer forma
Vou ter você em minha casa,
Quero também em minha cama
Mesmo sabendo que a outra ama.

Vou ter você onde quer que seja
Na terra, no ar, no mar, onde a imaginação quiser levar,
Vou te prender ou te raptar
Nem que seja para um poema criar.

Não vou te reter
Nem te devolver como era,
Vou te libertar
Para que possa voltar.

Vou te escrever, vou te desenhar,
Vou seu futuro aplaudir
Seus sucessos comemorar
Até a tinta acabar.


Kátia Bicalho – 03/04/2016




Jogando o Manto


A impossibilidade de viver o amor,
A lembrança do passado vindo,
A trinca do esmalte surgindo,
A aparência que o espírito não acompanhou.

Neste cárcere privado de um amor arrebentado,
Peço misericórdia pelo pecado que é meu,
Pela diferença cronológica que o destino ofereceu,
Peço clemência desse sorriso que é só seu.

Deus, meu Deus por que me abandonaste?
Ecoou por toda terra o gritou do filho do criador.
Pelo abandono sentido por um simples mortal
Grito e choro e este som não passa do portal.

Kátia Bicalho – 03/04/2016

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Terremoto

O chão tremeu e abriu-se à minha frente
A visão perdeu o foco, ficando tudo embaçado,
E, no meio de uma nuvem espessa de fumaça,
Vi um rosto que não era meu ao seu lado.

O tremor se estendeu por intermináveis segundos
Tempo mais do que suficiente para me provar
Que era outro o sorriso ao lado do seu,
Que era outra mão que enlaçava o que, para mim, era meu.

Foi mais um soco violento no estômago
Que me fez vomitar todo sentimento retido.
Procurei um remédio bem amargo
E chorei um pranto incontido.

A gravura ficou presa em mim como alucinação
Mas farei dela a minha libertação.
Livre ficarei da sua insistente imagem
Que me atormenta de desejo e vontade.

Kátia Bicalho – 02/05/2016





sábado, 30 de abril de 2016

Se Soubesses

Se soubesses
Quantos vezes abro tua página
Se soubesses
Quantos vezes admiro tua foto.

Se soubesses
Quantas vezes pesquiso teu nome
Se soubesses
Quantas vezes vejo os vídeos que postas.

Se soubesses
Que faço isso para sobreviver
Se soubesses
Como é importante para mim te ver.

Se soubesses
Que não curto nem compartilho para não te constranger
Se soubesses
Que a ti continuo amando e desejando sem querer.

Kátia Bicalho – 30/04/2016


sábado, 23 de abril de 2016

Penso em Ti

Vontade de ver uma coisa bonita,
Penso em ti.
Vontade de comer algo gostoso,
Penso em ti.

Vontade de me molhar na chuva,
Penso em ti.
Vontade de ganhar um beijo roubado,
Penso em ti.

Vontade de ver novela deitada no sofá,
Penso em ti.
Vontade de tomar uma cerveja no bar,
Penso em ti.

Vontade de voltar pra casa,
Penso em ti.
Vontade de não pensar em nada,
Penso em ti.

Por isso te peço:
Deixe-me sorver tua presença
Ou me devolva os espaços
Para que eu possa pensar em mim.


Kátia Bicalho – 19/04/2016

domingo, 3 de abril de 2016

Rotina

Amo acordar cedo e levar meu filho para o colégio
Ir para o trabalho e cumprir minhas tarefas
Voltar para casa, escutar Paulinho Pedra Azul ou Ana Carolina ou...ou...ou
Fazer o almoço esperando o filho chegar
Almoçar com ele na mesa posta pela metade
Assistir ao noticiário local até o sono vencer
Tirar um cochilo daqueles.
Depois seguir a ordem do dia:
Viver o que tiver para ser vivido.
Carpe Diem!


Kátia Bicalho- 03/09/2015

Cabelos Brancos

Doce cabelo branco
Experiência de vida e amor incondicional
Colo manso e aconchegante
Mãos calejadas, caladas, macias
De quem viveu outros tempos.

Só que não!

Nada a ver com cabelo branco de hoje
Que cheio de vida e malícia
Procura a juventude em toda parte.
O chá, a sopa e a canja
Foram sinistramente substituídos.
Os temperos são bem mais caros,
Impera o cheiro das bebidas e cigarros.

Só que não!

As mãos continuam macias
Apesar das experiências acumuladas.
Amores maduros e imperfeitos
Amor solúvel e passageiro.
Diferentes formas de amar
Procurando a felicidade encontrar
Sem muito tempo a perder
Este sou eu e também é você.

Kátia Bicalho

16/08/2015

Rumo a outro lugar

Bota a mudança no caminhão,
Amarra todos os troços e destroços,
Pisa no acelerador,
E, na descida, lembre-se dos freios.

Nessa bagagem pesa muito
O nada que sobrou de tudo.
A foto pesa mais que a porta,
Retratos cortados se dobram na dor.

Finja que não vê cair pelo caminho
Momentos que deverão ser esquecidos,
Lembranças dolorosas sem sabor,
Mas, cuidado com os vinhos envelhecidos.

Ao chegar ao destino,
Descarregue tudo bem devagar,
Sem desespero, sem pressa
Deite, durma e nem pense em se levantar.



Kátia Bicalho -19/08/2015

Diferença

Tem diferença sim
O céu que vejo aqui
E o céu que vejo lá.
Lá é todo estrelado,
Envolvido por uma brisa suave.
Visto do velho quintal e lá fora
Ruídos tão peculiares e familiares.

Tem diferença sim
O povo na Igreja aqui
E o meu povo lá.
A fé lá é mais forte e a religiosidade
Mais verdadeira.
Uma coisa existe em comum
Lugares marcados.
Uns sempre à direita e outros
Sempre à esquerda.

Tem diferença sim
Sentar-se à praça no final de tarde.
Praça aqui?
Só lá.
Os banquinhos de cimento sob árvores
O cair da tarde
Carros que passam correndo
Antes eram poucos, hoje estão em bando.

Tem diferença sim
Esse amontoado de prédio aqui
E as casas com suas marcas registradas,
Com histórias intermináveis para contar.
Mudou tudo
Ou não mudou nada?
Não sei a resposta.
Cada um vive seu tempo
E cada tempo tem a sua marca.

Kátia Bicalho – 10/03/2016




Chama de Vela

Chama de vela
Sempre oscilante
Sempre acesa
Em sinal de velha crença.

Chama que ilumina
Chama que faz crescer a fé
Chama que espanta o mal
Chama que aquece com seu sinal.

Luz que oscila
Que balança na visão
Que flutua, que dança
Que cria sombras na escuridão.

Luz que acalma
Luz que irradia paz no coração
Luz que protege  
Luz que derrete a cera na mão.

Kátia Bicalho-28/07/2015



Coragem

Se tiver com medo,
Vai com medo mesmo
Se não tiver coragem
Vai com o que tiver
Se não for
Nada vai acontecer.
Mas se for
Tudo pode mudar,
Tudo pode renovar,
Nada ficará como dantes
No quartel de Abrantes!

Kátia Bicalho- 19/08/2015


sábado, 2 de abril de 2016

Passado a Limpo

Tirei a limpo o seu sumiço
Não poderia ficar com a dúvida para sempre
Para sempre é muito distante e não dá para aguentar
No imediatismo da vida atual melhor clarear tudo pela frente.

Comunicação via satélite, rápida, em qualquer lugar,
Impossível esperar a próxima viagem,
O próximo improvável encontro
Para desfazer, desse deserto, a miragem.

Vem sempre o medo do não, da rejeição, do desprezo. 
Mas um não dito com delicadeza e beleza, tem gosto de talvez.
Não quis te assustar e nem te cobrar
A força das palavras escritas não foram para espantar.

Foi a forma que encontrei para registrar o momento
Intenso, fugaz, com uma imagem tão significativa.
Beleza que pode passar desapercebida
Mas não para uma alma de poetiza.

Te vi, te beijei, te amei, te desejei,
Não te vi, não te beijei, não te amei e acho que te perdi.
Ainda não esqueci porque é lindo lembrar,
Mas, não paro no tempo, preciso caminhar.

Ar rarefeito me sufoca.
Preciso de muito ar para me recompor.
“A vida me prestou esse favor
Me fez sempre pronta para um novo amor”.

Katia Bicalho.  02/04/2016